Ainda é grande a repercussão do terceiro episódio do novo Repórter Record Investigação exibido nessa quinta-feira (06). A matéria especial, que também marcou a estreia de Adriana Araújo como repórter do programa que já apresenta, mostrou as inúmeras irregularidades do trabalho nas lavouras do sisal. Além de se emocionar com a miséria que vive adultos e até crianças que trabalham no campo, o público se revoltou com um flagrante feito pela equipe da Record TV.
Durante a reportagem, Adriana conversou por vídeo chamada com Wilson Andrade, presidente da Sindifibras, entidade que representa todas as indústrias de sisal da Bahia. Contudo, após responder todos os questionamentos da apresentadora, o representante esqueceu de desligar a chamada e admitiu a situação de irregularidades dos trabalhadores.
Antes do flagrante, ao ser questionado pela jornalista se a situação do trabalho era grave, Wilson chegou a negar: “Não acho que seja grave, acho que sempre é preciso melhorar e tem que se trabalhar cada vez mais por isso. A parte do produtor rural, ele trabalha num esquema, alguns tem registros e tem empregados permanentes e você tem também a parte do pessoal que trabalha dividindo a produção“, disse o representante.
Ele também disse desconhecer quanto ganha um cevador, mas a reportagem mostrou que, depois de uma semana longa e desgastante, os lavradores esperam, sentados no chão, para receber cerca de R$ 70 por semana. Por mês, menos de R$ 300. E é com esse dinheiro que eles sofrem a angústia de ter que sustentar a família.
Admitiu as irregularidades
Após o fim da entrevista, Wilson Andrade não encerrou a ligação e a Record TV gravou tudo o que ele disse. O presidente do sindicato admitiu a gravidade do caso e disse que o programa tinha razão. Quando se deu conta que ainda estava no ar, encerrou a ligação demonstrando vergonha.
“O esquema é completamente irregular. É completamente irregular. Não tem registro, o cara trabalha como autônomo. Chega na sua fazenda, tira o sisal. Metade é seu, metade é meu. Tá errado. Ela [Adriana Araújo] tem razão. Agora você tem que defender naquilo que pode, tá certo?“, diz Andrade no vídeo.
Emocionante
Durante 12 dias, a apresentadora Adriana Araújo, Laura Ferla e Gilson Fredy acompanham de perto a triste realidade dos brasileiros que trabalham em condições desumanas. Famílias que levam os filhos ainda crianças para as lavouras de sisal, a planta que serve de matéria-prima para produção de cordas, bolsas, chapéus e tapetes. Produtos que são vendidos em lojas famosas, por até mais de R$ 5 mil reais.
Ao mostrar a situação de uma família que vive como nômade, de cidade em cidade, em busca de algum função para ganhar dinheiro e sobreviver, Adriana Araújo se comoveu com a situação e chorou. Ela foi convidada por eles para comer um almoço, preparado com o pouco de comida que tinham no barraco. Adriana não se conteve com o gesto e desabafou:
“Eu estou comovida, porque vocês tem tão pouco, e a comida está uma delícia. Eu só me emocionei porque eu fiquei sensibilizada com vocês, criando um filho aqui e tem uma condição tão difícil, mas sua organização seu carinho de fazer esse almoço é incrível”.
Os repórteres também se deparam com trabalhadores sem registro em carteira, alguns vítimas de graves acidentes de trabalho, outros mutilados. Um dos trabalhadores se chama Miga, ele começou a trabalhar nos campos de sisal com apenas sete anos. “Trabalho mais de 12 horas por dia. Eu acho que é escravidão, eu me sinto escravizado“, desabafou.
Jailton e Diodato tiveram as mãos decepadas nas lavouras de sisal. “Eu tinha 15 anos quando a máquina cortou meu braço“, contou Diodato. A reortagem ainda revelou que, aos 43 anos, Jailton ainda trabalha mesmo após ter perdido a mão esquerda ao manusear o motor.
Ministério Público do Trabalho entra no caso
O Repórter Record Investigação acabou conquistando sua melhor audiência na TV e, com toda a repercussão em cima do caso, o Ministério Público do Trabalho no Estado da Bahia (MPT-BA) resolveu se manifestar.
Ao site Bahia.BA, o MPT confirmou nesta sexta-feira (07) que instaurou um processo interno com um conjunto de ações para modificar a realidade dessa cadeia produtiva.
Vale lembrar que, a atividade é explorada desde a época da colonização do Brasil. Um dado bastante curiosos revela que: 85% da produção nacional é destinada à exportação, que gira um lucro em torno de US$ 100 milhões por ano. Uma riqueza que contrasta com a realidade de miséria e abandono dos cevadores.
O Repórter Record Investigação sobre ‘A Miséria do Sisal’ na íntegra, está disponível no PlayPlus.
Leia também: Adriana Araújo apresenta sua primeira reportagem no ‘Repórter Record Investigação’
Tem informações do Miga ou daquela família nômade? Gostaríamos de oferecer uma ajuda financeira, não sei o que seria melhor fazer neste momento. Ficamos sensibilizados com tudo isso. Desde já agradeço.
Gostaria de informações e endereço da Cidade para ajuda à familias do miga
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