O Roda Viva (TV Cultura) desta segunda-feira (13), recebeu Sydney Possuelo, considerado a maior autoridade com relação aos povos indígenas isolados no Brasil. Presidente da FUNAI por quase 50 anos, o ativista aposentado emocionou a apresentadora Vera Magalhães, os entrevistadores convidados e o público nas redes sociais com seus depoimentos sobre a repercussão mundial do desaparecimento do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira.
Acredito que a democracia só é plenamente exercida quando você tem um jornalismo aberto, livre e atuante. A partir disso, quando eu trabalhava nas atividades de campo, sempre abri as questões pros jornalistas por que é uma obrigação nossa de não ocultar a verdade. O estado não pode utilizar a mentira, proibir atividades como o jornalismo, pois sem ele não há democracia. Sempre tive essa visão para informação do povo
Sydney Possuelo
Perguntado sobre sua perspectiva quanto ao futuro dos que defendem as organizações indígenas, Possuelo foi preciso: “Eu penso que todos os funcionários da FUNAI estão sujeitos a esses acontecimentos dramáticos [morte, desaparecimentos, repressão]. Estão claramente ameaçados. E todos aqueles que manifestaram apoio aos povos indígenas foram, são e serão”, respondeu.
Sydney também comentou sobre sua relação com Bruno, indígena desaparecido no Vale do Javali: “[Ele era] um dos poucos que queriam colaborar com a proteção dos índios, mas morreu ou desapareceu. Se perder esse homem for sinal de uma revirada, eu prefiro que não tenha essa mudança. Existe algum lado positivo nessa morte? Eu acho que não. Não fosse esse jornalista (Dom Philips) com Bruno, atrás de informações sobre essas ações do governo e do homem, nós nunca saberíamos o final dessa história. Então eu prefiro acreditar que existe outras formas de resolver as coisas”, disse.
Em determinado momento da entrevista, Passuelo falou sobre a atuação das forças armadas nas regiões indígenas e como encara as últimas notícias que as envolvem: “O exército brasileiro tinha uma ação benéfica pela região amazônica, de trabalhos difíceis e eles tiveram alguns momentos importantes no início dos anos 90. Hoje não acontece a mesma coisa. Parece que as forças armadas são preparadas para o contrário”, afirmou.
Um pouco da segurança que tínhamos se perdeu porque não temos alguém na ponta (do poder) pra defender os ideais. Hoje em dia tá quase tudo na mão do bandido. Os órgãos foram enfraquecidos e a FUNAI, que foi criada a favor dos povos indígenas, se comporta completamente contra eles. Esse movimento “bolsonarista” permitiu que pessoas invadissem as terras indígenas e atirassem livremente sem pudor
Sydney Possuelo
No último bloco de perguntas, o entrevistado finalizou com a seguinte reflexão: “Você não precisa compreender as minucias do outro povo. Você só precisa entender que eles têm os mesmos direitos que você e precisa ser respeitado”.
Repercussão
As declarações do ativista rapidamente entram em destaque nas redes sociais. No twitter, artistas, representantes políticos e anônimos elogiaram suas respostas e se emocionaram com os fortes testemunhos.
Assista entrevista completa do programa desta segunda (13):
O “Roda Viva” vai ao ar toda segunda-feira, às 22h, na TV Cultura, com transmissão ao vivo no Facebook, Twitter e Youtube.
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