Um dos casos mais polêmicos dos bastidores da TV Globo, que envolve diretamente o ex-diretor Marcius Mellhem, veio novamente à tona neste sábado (24). A advogada criminalista Mayara Cotta, quebrou o silêncio e relatou uma série de denúncias de assédio sexual de 12 pessoas que ela representa contra o ex-humorista do canal. A entrevista exclusiva foi publicada pela colunista Mônica Bergamo na Folha de S. Paulo.
Com uma carreira de notáveis sucessos na TV Globo, como ‘Zorra’, ‘Tá no Ar: A TV na TV’ e ‘Escolhinha do Professor Raimundo’, o diretor do núcleo de humor foi desligado da emissora em agosto de 2020, sem nenhuma explicação do canal e com votos de sucesso, o que causou revolta nas vítimas e testemunhas dos casos.
Tudo começou em 2019, quando a atriz Dani Calabresa procurou o compliance da TV Globo para fazer a denúncia. Em seguida, outras mulheres também buscaram auxílio do canal para relatar fatos semelhantes que ocorreram na empresa. “Não vou falar nomes porque não foi uma mulher que liderou as demais contra ele. Uma fez apenas o primeiro furinho na barragem que estourou“, disse a advogada sobre a denúncia da humorista.
Vítimas
A representante conta que são seis vítimas de assédio sexual e seis testemunhas. “Há vítimas de assédio moral. E há um grupo de apoio a elas, de mais de 30 pessoas“, disse Mayara que só concedeu a entrevista após pedido das vítimas.
“Do grupo fazem parte homens também, que acreditam nelas, que estão sendo muito firmes nessa luta“, garante.
As acusações
Segundo a advogada, Marcius Mellhem foi acusado de assédio moral e sexual.
“Houve um comportamento recorrente de trancar mulheres em espaços e as tentar agarrar, contra a vontade delas. De insistir e ficar mandando mensagem inclusive de teor sexual para mulheres que ele decidia se iam ser escaladas ou não para trabalhar, se ia ter cena ou não para elas [ nos programas de humor]. De prejudicar as carreiras de mulheres que o rejeitaram. De ficar obcecado, perseguindo mesmo”
Por ter trabalhado com violência doméstica na Universidade de Brasília, Mayara conta que percebeu na descrição dos casos que envolvem Marcius, um chefe assediador “semelhante a um marido abusador”.
“O Marcius se apresentava como uma pessoa que estava cuidando das atrizes na TV, que estava protegendo, como responsável pelas carreiras delas. E ele não era.”
Violência
A entrevista ainda revela que o ex-diretor da Globo criava um ambiente de trabalho tóxico: “As pessoas se sentiam presas, sem conseguir se livrar daquilo…. Ele tentava agarrar, colocar contra a parede, tentar beijar à força. Isso é bastante violento“.
A representante lembra também que há casos de quando ele ainda era um dos redatores principais do ‘Zorra Total’:
“Mesmo não sendo chefe formalmente, tinha posição hierárquica superior. Tinha o poder de colocar uma atriz na geladeira, por exemplo. Ou de escrever cenas em que contracenava beijando, agarrando a atriz.”
Medo
Quando questionada por Mônica sobre o motivo pelo qual as vítimas não querem dar entrevistas, a advogada é categórica: “Elas têm medo, muito medo”, e continua: “Um chefe assediador tem essa capacidade de criar um temor permanente nas pessoas. Mesmo não estando mais lá, elas têm medo de ele se vingar, de continuar sabotando as carreiras delas“.