Quando você pensa em novela, qual é o primeiro profissional que vem na sua cabeça? Com todo o respeito aos diretores, na minha é a figura do autor que aparece. O dono da história, criador dos rumos de cada personagem e pai de muitos filhos que ganham vida na pele do elenco. Para construir uma boa novela, o pilar principal é a trama, a química entre os protagonistas também conta muito. Mas para produzir uma obra de qualidade, é indispensável a presença de uma equipe preparada e que saiba fazer o negócio acontecer. O canal até tem bons atores e diretores super competentes como Rudi Lagemann, Leonardo Miranda e Edgard Miranda. Mas cadê os autores experientes?
Com a promessa de ser uma opção diferenciada do padrão Globo de qualidade, a dramaturgia da Record TV investiu milhões de reais ao longo dos anos, contratando nomes de peso do mercado como Marcílio Moraes, Lauro César Muniz, Alexandre Avancini, entre outros. Produtos que tinham ação, humor e melodrama, sem ter o objetivo de evangelizar. Porém, a mudança de chave ocorreu com a trama de Moisés, e após Apocalipse, uma obra contemporânea, Amor Sem Igual foi um protótipo para eventuais tele cultos. Agora com Todas As Garotas em Mim o objetivo fica escancarado.
Hoje em dia a dramaturgia do canal se resume a uma extensão da filosofia e preceitos da igreja Universal. Mas o que agrava essa situação é a questão do amadorismo como a direção do canal está comandando esse departamento, que por anos foi visto como o principal produto para alavancar seus índices de audiência.
Falta estratégia
A emissora consolidou o horário das 21 horas para produções bíblicas. Mas como colocar Todas As Garotas em Mim, uma trama que fala diretamente com os jovens, em um horário consolidado para o grande público? É um tiro no pé!
Criar séries de curtas temporadas com cara de novela parece um bom plano, mas não fideliza o espectador durante meses como é de costume das novelas, com novos personagens e enredos. E para esse plano funcionar, a gente espera um produto envolvente.
Plano imperfeito
A ideia de transformar roteiristas iniciantes, como Stephanie Ribeiro (TAGEM) e Raphaela Castro (Reis), como autores titulares, não parece ter dado muito certo. O mínimo era ter mantido um autor experiente como supervisor de texto.
Deixar de lado uma profissional do culhão de Cristianne Fridman para apostar em novatas é um risco muito grande, e o resultado já pode ser verificado em números de audiência.
Paula Richard, autora de ‘O Rico e Lázaro’ e ‘Jesus’ não teve o seu contrato renovado. O autor Camilo Pelegrini, figurinha carimbada em diversas novelas do canal, também não.
Nasce uma salvadora
Uma nova autora surge na Barra Funda. A solução encontrada pelo canal de Edir Macedo foi achada dentro de casa. Dona Irís Abravanel fazendo escola. Trata-se de Cristiane Cardoso, escritora e apresentadora que assumirá a autoria da 4ª e 5ª temporada da série ‘Reis’.
Um processo que começou lá em Os Dez Mandamentos (2015), quando a filha de Edir Macedo revisava os textos da novela, foi nomeada como supervisora de folhetins, até que se tornou diretora de teledramaturgia da Record TV, e agora assumirá a autoria de projetos bíblicos. A adição de mais esse cargo não é uma surpresa, pelo histórico da profissional na empresa.
Mas será que outros Bispos da igreja Universal se transformarão em autores também? Qual será o próximo passo?
Vem aí?
Se os dados de audiência continuarem a despencar, o comando de Cristiane Cardoso na área começa a ser um problema. A emissora marcou a história da teledramaturgia nacional com anos de produções bem feitas para sucumbir no deserto.
Mas afinal, aonde a Record quer chegar? Antes o objetivo principal era a liderança, mas agora não se vê mais uma ambição de produzir novelas ou séries diferenciadas, que incomodem a concorrência. Se vê um comodismo pela vice-liderança e o único objetivo de evangelizar.
O bom novelão tem espaço em qualquer canal porque é uma paixão nacional, e a Record já provou que pode criar hits dramatúrgicos. Só não faz porque não quer.