Menos de um mês após anunciar uma nova grade de programação e defender uma mudança na linha editorial de seus telejornais, o SBT voltou atrás. Na manhã desta quarta-feira (04), os noticiários da emissora surpreenderam os telespectadores ao exibir uma sequência de matérias policiais, com cenas fortes e sensacionalismo — exatamente o tipo de conteúdo que a presidência do canal havia prometido abandonar.
A reviravolta editorial ocorreu no mesmo momento em que a programação matinal foi reformulada para tentar alavancar o desempenho do programa Alô Você. O Primeiro Impacto, agora exibido até às 11h, abriu o jornal com a manchete: “Pé na porta e bandido rendido. Agora: Operação combate tráfico na cracolândia”, enquanto o apresentador Marcão do Povo narrava os acontecimentos com tom exaltado.
Logo após o único intervalo comercial da manhã — uma estratégia para segurar o público —, o programa seguiu com reportagens sobre um grave acidente em São Paulo, uma agressão brutal contra uma cantora, o envolvimento de uma seguidora de redes sociais em tentativa de sequestro, a prisão do funkeiro MC Poze e um tumulto com gás de pimenta em uma rodoviária.
O noticiário ainda exibiu um vídeo do momento exato em que um pastor faleceu durante um culto religioso. Antes disso, Marcão prometia mais notícias impactantes com frases como: “Até as 11h a giripoca vai piar”.
Assista ao vídeo:
E a determinação de Daniela Beyruti?
A decisão de voltar ao estilo sensacionalista veio após a RECORD disparar na audiência das manhãs, com crescimento de até 20% nos últimos dias. A movimentação do SBT contraria o discurso da presidente da emissora, Daniela Beyruti, que em 15 de maio criticou publicamente o excesso de violência na televisão aberta.
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Durante a coletiva de imprensa que anunciou a nova grade, Dani se mostrou incomodada com a repetição de conteúdos policiais e afirmou que o canal buscaria oferecer uma alternativa mais leve ao público. “Muito disso faz mal, faz mal pra quem assiste, não cai legal”, disse a executiva, lamentando a falta de diversidade nos conteúdos transmitidos durante o dia.
Na ocasião, ela exibiu um vídeo com cenas de violência e destacou que o objetivo do SBT era entregar jornalismo de qualidade, mas com equilíbrio. “A gente não vai ter só notícia boa. Mas, assim, muito disso faz mal para quem assiste”, afirmou.
Mesmo com a orientação vinda da presidência, várias afiliadas resistiram às mudanças. Em Salvador (BA), por exemplo, a TV Aratu, afiliada do SBT, mantém no ar um telejornal local com classificação indicativa de 16 anos, justamente pelo teor violento das reportagens.