O Profissão Repórter desta terça-feira (19) viaja até o Rio Grande do Sul para mostrar como estão os dois municípios mais destruídos pela enchente provocada após a passagem de um ciclone extratropical no Vale do rio Taquari, no Rio Grande do Sul.
Caco Barcellos e os repórteres Nathalia Tavolieri, André Neves Sampaio, Pedro Marum e Eduardo de Paula estiveram durante uma semana nas cidades de Muçum e Roca Sales, onde conversaram com sobreviventes e acompanharam o drama de pessoas que perderam parentes, as buscas dos bombeiros e as ações de apoio aos desabrigados.
Em Muçum, onde morreram pelo menos 16 pessoas, o programa acompanha o drama dos irmãos Ernesto e Domingos Toriani que viram a casa onde viveram nos últimos 50 anos ser demolida diante de seus olhos. Ele conta que cada parte da casa foi construída com o dinheiro economizado do salário que recebia num curtume, onde trabalhou por meio século. “É duro ver o que levei a vida para construir sumir de uma hora para outra”, complementa.
Segundo a repórter Nathalia Tavolieri, o que a equipe viu ao chegar na cidade nunca será esquecido. “Chegamos em Muçum no meio da noite, num breu total, e foi assustador. Lama e destroços por todos os lados. Só no dia seguinte, já de dia, tivemos uma noção mais clara da gravidade do estrago”, diz ela.
A ajuda do cachorro
Na cidade vizinha, Roca Sales, a equipe conta a história de Evander Krone, que salvou o tio idoso. Arlindo Krone é acamado, sofre de Alzheimer e ficou quase dez horas boiando num colchão. O cachorro da vizinha não desgrudou dele e o manteve aquecido.
Com a ajuda de voluntários, ele conseguiu limpar a casa da família e pode, uma semana após o desastre, reunir novamente a mãe, o pai e o tio. “O mais importante, a nossa família, sobreviveu. Agora é reunir forças para recomeçar.”
Dormindo no sótão
Longe do barulho dos tratores e retroescavadeiras, moradores da zona rural também foram impactados. O agricultor Roberto Brauwers viu a casa – único bem herdado dos avós – inundada. Tudo o que estava dentro foi destruído. No dia da enchente, ele se escondeu no telhado e não saiu mais de lá. Há uma semana, ele tem dormido no sótão. Improvisou até uma janela para acompanhar, do alto, o que acontece do lado de fora. “Vou continuar aqui. É onde me sinto seguro.”
As buscas
Devido a extensa área de buscas, os bombeiros de cinco estados do Brasil – Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso e Pernambuco – se uniram para procurar vítimas com o auxílio de cães, helicóptero e botes. Os repórteres André Neves Sampaio e Pedro Marum acompanharam esse trabalho.
“A parte mais interessante de acompanhar os bombeiros foi ver o trabalho que eles fazem nesses momentos de caos. Como se organizam com helicópteros, cachorros, barcos, tudo para encontrar as pessoas desaparecidas e trazer um conforto para as famílias que estão à espera dessas vítimas. É um trabalho que chama muita atenção pela sua nobreza, por pensar no próximo e no ser humano de forma tão pura”, afirma o repórter André Neves Sampaio.
O bombeiro Vagner Lago, que trabalhou junto com o seu cão Logan nos resgates de Brumadinho, explica que as buscas no Rio Grande do Sul são muito difíceis por causa da quantidade de entulho concentrado, o que atrapalha o trabalho dos cães. “Em Brumadinho nós fazíamos um buraco na lama que liberava o odor e facilitava as buscas pelos desaparecidos. Em Muçum é muito difícil utilizar essa técnica devido a quantidade de entulhos”. Vagner também falou sobre a dificuldade de fazer as buscas em um rio: “Em Brumadinho, foram 12 quilômetros de área de busca. Na situação de Muçum, além de ser uma área bem superior à cidade de Brumadinho, a questão da água atrapalha muito, porque ela está em constante movimento, então a vítima pode estar em um ponto do rio num dia e no dia seguinte já estar em outro”.
Caco Barcellos e o repórter cinematográfico Eduardo de Paula contam a história de uma família pioneira do Vale do Taquari. Descendentes de migrantes italianos, que chegaram em 1904 na zona rural de Muçum, a família Zilio perdeu quatro pessoas na noite do ciclone. E teve dois sobreviventes, Roque e Janete, que estavam na lista dos desaparecidos. Roque foi arrastado pela correnteza até agarrar-se à uma árvore, onde ficou pendurado por dez horas, durante toda a noite e madrugada. Lavradora desde os 10 anos de idade, Janete conseguiu subir no telhado quando as paredes da casa desabaram. E, deitada sobre uma folha de zinco, flutuou na correnteza por 22 quilômetros.
Caco e Eduardo acompanham também a iniciativa de produtores rurais de assentamentos da reforma agrária que têm distribuído duas mil quentinhas por dia em Encantado e nas cidades mais atingidas pelo ciclone. Ações solidárias como esta atraíram voluntários até de cidades distantes e foram fundamentais no socorro às vítimas e no apoio aos desabrigados.
O ‘Profissão Repórter’ vai ao ar na noite de terça-feira, dia 19, logo após ‘Todas as Flores’.