Indo contra dados alarmantes sobre a atual situação dos índices de imunização de crianças, que atingiram a pior marca em 16 anos, a Globo se negou a veicular comerciais da campanha nacional de vacinação infantil contra o sarampo e a poliomielite. As informações foram divulgadas nesta sexta-feira (14), pela Folha de S. Paulo que teve acesso a emails, por meio da Lei de Acesso à informação.
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Entre os vários motivos alegados pela emissora, um chamou a atenção, a presença de personagens de mídias concorrentes, como a Xuxa – que já foi contratada da Globo por mais de 30 anos e agora está na Record TV, a ‘Galinha Pintadinha’ e um personagem do game “Just Dance”.
A veiculação de filmes da campanha em TVs, começou no dia 1º de Agosto, mas a Globo não mostrou nenhum dia.
As restrições da Globo
De acordo com email enviado dia 12 de junho, o executivo de Negócios da Globo André Timóteo disse à agência Fields, contratada pela saúde, que não seria possível mostrar a campanha por conta de várias restrições.
- Galinha Pintadinha
“Além do canal Youtube, é um desenho animado disponível em plataformas de streaming (Netflix). Sendo assim, não pode ter veiculação da Globo”.
- Xuxa
Sobre a apresentadora da Record TV, ele escreveu que a Globo, “Infelizmente”, recusa mensagens publicitárias com “personagens de programas da Globo ou que tenham finalidade de evocar determinado personagem ou programa da Globo ou emissoras concorrente”.
E ainda fez exigências, para o executivo seria importante que a apresentadora aparecesse no estilo anos 80, caracterizando mensagem publicitária antiga, mas não o “Xou da Xuxa”, seu extinto programa na Globo.
- Just Dance
A respeito do personagem de Just Dance, a TV citou a possibilidade de que a empresa responsável pelo jogo ter ganhos com a veiculação: “Infelizmente, para a veiculação na Globo, precisamos atentar a essas questões.
Mais restrições
Por conta das restrições à publicidade oficial no período de eleições, a campanha foi submetida ao TSE (Tirbunal Superior Eleitoral) e foi aprovada em 29 de junho, pelo ministro Luiz Fux, que liberou a veiculação, com a ressalva de que não constasse referência ao governo federal.
Diante disso, a Globo informou em 1º de agosto (início da campanha na TV) que mostraria o filme mesmo com a aparição de Xuxa, Galinha Pintadinha e Just Dance.
Mas logo apresentou uma nova restrição. Apesar da liberação dada pela Justiça Eleitoral, a executiva de negócios da TV Globo Clarice Lima informou: “Estamos neste momento em processo de decisão sobre a assinatura do material, apartir da autorização do TSE, e logo retornarei com uma posição definitiva”.
Porém a campanha foi mesmo reprovada pela Globo, sob a alegação que, embora não constasse a logomarca do governo federal, o filme vinha com a inscrição do ministério. Justificou que, uma vez que o ministério integra o
governo, seu entendimento é o de que não poderia haver referência ao órgão. A emissora, então, sugeriu que a questão fosse novamente submetida ao TSE. Mas, naquele momento, a campanha de vacinação já estava em curso.
Todas as concorrentes Record TV, SBT, Band, RedeTV! e TV Brasil já estavam mostrando as peças com Xuxa, Galinha Pintadinha, “Just Dance” e a logo do ministério.
Decisão da Globo pode ter afetado a campanha
Os comerciais, focados em pólio e sarampo, durou inicialmente de 6 a 31 de agosto, mas os resultados esperados pelo governo não foram alcançados, terminando com 80% do público-alvo vacinado, embora a meta fosse de pelo menos 95%. Para algumas autoridades do ministério da saúde, a adesão da emissora líder de audiência no país era fundamental para o sucesso da campanha em sua reta inicial.
De acordo com informações obtidas pela Folha de S. Paulo, o orçamento da campanha foi de R$: 20,8 milhões, sendo R$ 14,7 milhões em mídia. Só R$ 3,2 milhões foram gastos com espaço nas concorrentes da Globo, porque R$ 2 milhões, seriam destinados a emissora líder de audiência.
Nota Oficial
Através de duas notas, a Globo informou que as orientações da área comercial, feitas a agência responsável pela campanha, estão de acordo com os seus “procedimentos padrão, para evitar problemas com direitos e/ou apropriações indevidas”.
“As ressalvas citadas [sobre personagens de concorrentes] foram feitas diante do recebimento do roteiro da campanha e retiradas quando do recebimento do filme pronto, cuja veiculação ficou pendente da expressa autorização do TSE para a veiculação com menção ao Ministério da Saúde, que nunca recebemos.”
A emissora citou que campanhas regionais sobre o mesmo assunto, com o devido ‘OK dos tribunais regionais eleitorais foram veiculadas pela Globo, juntamente com a exibição de “inúmeras reportagens” em seus telejornais.
A Globo ainda citou a campanha sobre vacinação do Governo de SP, segundo a TV “veio com expressa autorização do TRE-SP”.
Porém segundo a Secretaria de Saúde de SP, seu filme era uma animação com personagens desconhecidos.