A morte do ator Ney Latorraca, aos 80 anos, nesta quinta-feira (26), trouxe à tona não apenas a lembrança de sua rica trajetória artística, mas também um ato de generosidade que ele planejou em vida: a destinação de sua herança para instituições de caridade. Em entrevista ao EXTRA em 2021, quando tinha 76 anos, Latorraca revelou que já havia providenciado seu testamento, expressando o desejo de que seus bens fossem direcionados a entidades como o Retiro dos Artistas e a ABBR (Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação).
“É um desejo da minha mãe também. Acho que é assim que tem que ser. O que eu ganhei com o teatro tem que voltar para essas causas. Essa é a missão do artista, pelo menos para mim”, declarou Latorraca na ocasião.
A decisão reflete a crença do ator no papel social da arte e seu comprometimento em contribuir para o bem-estar da comunidade artística e de pessoas que necessitam de reabilitação.
Dramaturgia em luto
Ney Latorraca, que faleceu em decorrência de uma sepse pulmonar, consequência do agravamento de um câncer de próstata, deixou um legado marcante na cultura brasileira. Nascido em Santos (SP) em 25 de julho de 1944, filho de artistas – pai cantor e mãe corista –, Latorraca iniciou sua trajetória no teatro em 1964, aos 19 anos, com a peça “Pluft, o fantasminha”.
Sua carreira o levou a integrar o elenco da peça “Reportagem de um Tempo Mau”, dirigida por Plínio Marcos, no Teatro Arena, em São Paulo. A peça, no entanto, foi censurada pelo governo militar antes da estreia. Após esse episódio, Latorraca retornou a Santos, estudou na Escola de Arte Dramática e, em 1969, estreou na televisão em “Super Plá”, da TV Tupi, e no cinema com “Audácia, a Fúria dos Trópicos”.
O ator consolidou sua carreira na Rede Globo a partir de 1975, na novela “Escalada”. Seus personagens mais lembrados incluem o icônico vampiro Vlad em “Vamp” (1991) e o irreverente Barbosa em “TV Pirata” (1988-1992). A decisão de Latorraca de destinar sua herança a instituições de caridade reforça o caráter humanitário do artista, que, além de brilhar nos palcos e telas, demonstrou preocupação com o próximo e com o futuro da arte no Brasil. Sua doação se junta a outras demonstrações de apoio à classe artística, como o Retiro dos Artistas, que acolhe profissionais veteranos, e a ABBR, que promove a reabilitação de pessoas com deficiência.