Lolita Rodrigues foi num dos grandes nomes da televisão brasileira e, com certeza, a mais injustiçada na história do maior veículo de comunicação do Brasil. Ele merece muito mais destaque na história da TV. Cantora, atriz e apresentadora, Lolita foi uma das primeiras a aparecer na TV Tupi. Ela cantou o Hino da Televisão no lugar de Hebe Camargo, que faltou à inauguração porque estava com o namorado.
Lolita Rodrigues participou de 33 novelas. Atuou em tramas da TV Tupi, Excelsior, Bandeirantes, Record e Globo. Seu último trabalho em dramaturgia foi em Viver a Vida, de 2009. Ela também integrou a equipe do TV de Vanguarda e TV de Comédia, dois formatos da TV Tupi que reuniam os grandes atores da época, mas que eram ao vivo.
Uma artista de trabalho
Acha pouco para uma artista que trabalhou intensamente? Lolita Rodrigues apresentou por quatro anos o “Música e Fantasia”, na época em que tudo era ao vivo na TV e, por isso mesmo, para se manter no ar o profissional precisava ter muito jogo de cintura, repertório e capacidade de improviso. Depois, entre 1955 e 1960, comandou o Clube dos Artistas. Mas, foi com o Almoço com as Estrelas que Lolita Rodrigues conversou com muitas gerações.
O programa que ela dividiu com Aírton Rodrigues, seu marido até 1982, foi um grande sucesso na TV Tupi, Record e SBT e tinha como convidados semanais nomes da música, teatro, moda e televisão. E é nesse sentido que Lolita Rodrigues foi injustiçada quando se fala dos nomes mais importantes da nossa TV. Muito mais atuante do que vários artistas que são aplaudidos e considerados fundamentais na história da TV.
Lolita Rodrigues sempre foi uma mulher discreta, que não a exposição pela exposição. Ela foi uma estrela de realização.
O carinho que não se esquece
Eu guardo muitas lembranças de Lolita Rodrigues. Ele sempre atendeu aos meus telefonemas e pedidos de entrevista com muito carinho e atenção. Sempre disponível para falar sobre seu trabalho e a história da televisão. Até hoje recordo que, no final de uma entrevista ao vivo no Show da Manhã, ela disse para eu não mudar meu foco na carreira porque era justamente o respeito e o conhecimento sobre o que eu iria abordar que cativava os artistas e meus entrevistados. Como não ouvir e seguir o conselho justamente de uma profissional que por 27 anos entrevistou as mais diferentes pessoas?
Quando eu e Flávio Ricco resolvemos escrever o livro Biografia da Televisão Brasileira, Lolita Rodrigues foi a nossa primeira entrevistada. Na época, ela ainda morava em São Paulo e Flávio, eu e Rose Sinhorini, nossa agente literária, fomos ao seu apartamento para uma entrevista de uma hora, como havia sido solicitado. Fomos recebidos com um abraço carinhoso e um café fresquinho, mas a sua disponibilidade incrível de contar o que viveu na televisão foi o que chamou mais atenção. E entre risadas e choro de emoção, porque ela é assim, Lolita nos conduziu por suas lembranças. É claro, ficamos ali quase quatro horas. Foi um rico depoimento e novamente ouvi o quanto ela admirava meu trabalho. Levarei isso por toda a minha vida porque é esse tipo de reconhecimento que justifica o caminho traçado lá no início.