Correu em todos os sites especializados um dos assuntos mais polêmicos da semana: o cancelamento da novela”País de Alice” , assinada por Lícia Manzo. A novela já estava em pré-produção e cotada para substituir Elas por Elas, no início de 2024. Lícia entregou o primeiro bloco de capítulos, o que desagradou a emissora que está mais focada em produzir tramas mais populares.
Qualidade x Audiência
Atuando como colaboradora em diversas novelas da Globo, Lícia assinou sua primeira novela das 18h em meados de 2010. A Vida da Gente foi um sucesso de crítica, encantou e emocionou o público ao substituir o megassucesso Cordel Encantado. A Audiência da novela não foi como a Globo esperava, entretanto agradou. A trama foi uma das mais exportadas por anos e na pandemia voltou a ocupar o horário das 18h atendendo a diversos pedidos nas redes. Ana e Manu são sinônimos de sucesso até hoje.
Em 2015, a autora voltava no mesmo horário com Sete Vidas, mantendo o primor de uma história bem costurada e repleta de diálogos extensos e refinados, sua marca. 2020 era o ano da estreia da escritora em horário nobre. Cotada inicialmente para suceder a Amor de Mãe, Um Lugar ao Sol talvez foi a novela que mais sofreu para se manter na era pós pandemia por diversos motivos. Como já estava em pré-produção e após a flexibilização foi ao ar totalmente gravada. Para uma obra aberta isso é risco calculado, mas os austeros tempos de pandemia cobrou tal atitude extrema. No ar, Um Lugar ao Sol sofreu para despertar o interesse do público que estava com toda atenção voltada para o streaming. Mais uma vez, uma novela carregada de diálogos mais sofisticados e personagens com condições abastadas
A classe A no centro do debate
As tramas que levaram a assinatura de Lícia chamavam a atenção do público pela boa construção de personagens, aliados a um bom diálogo e com cenários refinados. Isso lança sobre ela uma acusação de elitismo. Isso pode ter chamado a atenção a alta cúpula da Globo e claro o fraco desempenho de audiência de Um Lugar ao Sol culminaram em decisões posteriores. Talvez o público não se identifique com os personagens criados para contar histórias criadas por Lícia.
O Perigo de se fornecer o mesmo produto
Manoel Carlos discorreu certa vez sobre o que a televisão deveria levar a seu público. “A tv tem que fornecer de tudo, como uma padaria”, destacou o autor. Mas, hoje há um momento delicado e a tv está atenta a esta nova fatia que a acompanha. Estamos na era de novas séries que quase obriga a TV a se reinventar a todo momento. As redes cobram. E, pensando nisso, essa mesma TV prefere não oferecer o novo com medo de uma fuga, pois essa fatia que ainda vê a TV deu indícios de que não quer navegar em outros mares. Falando em mar, quem previamente é o autor escolhido para ocupar o horário que seria de Lícia é Mário Teixeira, que assinou o sucesso Mar do Sertão, novela que elevou os índices das 18h. Mesmo quando há sucesso de outros escritores precisamos falar sobre diversidades de histórias, sobre o novo e o velho andando lado a lado para contar histórias do presente e futuro, que já chegou.