Já está mais do que na hora do jornalismo da Globo mudar um velho costume em seu esquema de produção. Texto e edição são reaproveitados em todos os seus jornais e programas jornalísticos, mudando a apenas a narração. Se é uma nota coberta, o âncora de um telejornal lê exatamente o mesmo texto que o apresentador leu no jornal anterior. E, às vezes, esse material se transforma no que é dito rigorosamente igual por um repórter.
E esse velho costume da Globo fica muito mais perceptível em situações onde a notícia atravessa o dia. Vou dar um exemplo. O off do repórter que entrou no Hoje para falar sobre a cremação do corpo de Lolita Rodrigues foi exatamente igual ao do Bom Dia Brasil, Fantástico e Mais Você. É o mesmo texto sobre a biografia da atriz, a mesma sequência, o mesmo pensamento. Você vai dizer que o fato não muda, mas a forma de contá-lo sim.
Há alguns anos, num evento, conversei sobre isso com Boni e ele mesmo reconhece que é necessário mudar esse modo de agir. Foi ele quem criou o padrão Globo de qualidade. Afinal, nos dias atuais o público quer âncoras com personalidades e não mais os apresentadores que não imprimiam personalidade e emoções na condução de um telejornal. E é justamente isso que buscamos na TV, algo mais natural e que nos envolva e não somente a repetição do mesmo texto.
A Globo tem excelentes editores de texto e uma grande preocupação para que toda a rede esteja dentro de um padrão de qualidade. Mas, esses mesmos profissionais precisam entender que a mesma notícia tem um jeito diferente em cada horário em que é exibida.
Há muito que a Globo deixou de ser a Globo da era Boni, Pacote, Borjalo e tantos outros que faziam da emissora um primor de qualidade. Os anos setenta foi a era de ouro da Rede Globo.