O jornalista e apresentador Dony De Nuccio não suportou a pressão que vem sofrendo nos últimos dias, após o site Notícias da TV, por meio do jornalista Daniel Castro publicar informações que abalaram o jornalismo da Globo. Segundo uma série de reportagens, o apresentador do Jornal Hoje havia negociado com clientes de uma empresa que abriu em 2017, entre elas o banco Bradesco.
Na manhã desta quinta-feira (1), o jornalista enviou um e-mail a Ali Kamel, diretor-geral de jornalismo, em que deixa claro sua revolta com a exposição que sofreu, como violação de sigilo fiscal, mas também admite que infringiu o código de conduta dos jornalistas da Globo. O executivo, agradeceu a sinceridade de De Nuccio e aceitou o pedido de demissão com “pesar”.
Entenda o caso
Em uma das matéria veiculadas pelo jornalista Daniel Castro, Dony teria assinado um contrato milionário com a Bradesco Seguros, onde teria gravado vídeos que são usados para eventos com clientes e treinamentos de funcionários. Mas, segundo as regras do grupo Globo, a participação do jornalista no material publicitário é uma violação.
Ainda segundo o jornalista que divulgou as informações, o apresentador do Jornal Hoje teria faturado mais de R$ 7 milhões com o contrato do Bradesco.
Vale lembrar que, Dony De Nuccio assumiu o lugar de Evaristo Costa que também pediu demissão da Globo, e passou a investir alto em publicidade. Na Globo, Donny também apresentou o Jornal Nacional e Fantástico, mas um pouco antes foi um dos principais nomes da GloboNews, apresentadno o Jornal da Dez, GloboNews Internacaional entre outras atrações.
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Leia o e-mail com o pedido de demissão de Dony
“Caro Ali,
Como afirmei anteriormente, não tinha conhecimento de que os tipos de serviços prestados pela empresa à qual estava ligado contrariavam normas da Globo. Reitero que minha função não era negociar valores com clientes, mas sim trabalhar na concepção dos projetos e em seu conteúdo.
Frente à recente onda de ataques que venho sofrendo, e com indícios de criminosa invasão de computadores, arquivos e mensagens, procurei vasculhar o histórico de dois anos de emails enviados por mim enquanto cumpria função na empresa. De fato, na esmagadora maioria das vezes, eu não tratava de valores com contratantes. Mas, em algumas circunstâncias pontuais, e das quais eu sinceramente não me recordava, há sim menção a cifras e projetos. Nos poucos casos em que isso aconteceu, a proposta geralmente não prosperou e a contratação não foi efetivada. De qualquer forma, fui traído pela memória. E me penitencio por isso.
Quero acrescentar também que depois de nossa longa conversa e do relato mais pormenorizado que lhe fiz sobre as atividades já desempenhadas pela PrimeTalk, há um serviço pontual que incluiu o que pode ser interpretado como assessoria de imprensa. Entendo com os olhos de hoje que o escopo dos serviços prestados ultrapassa os limites do que a Globo espera de seus jornalistas. E lamento que, mesmo sem dolo, não tenha percebido isso antes. Não quero mais – por qualquer que seja o artigo ou vazamento na contínua tentativa de destruir minha reputação – constranger você, a Globo ou a minha família.
Desde muito cedo na vida sonhei em trabalhar com televisão, e procurei ao longo de toda minha trajetória me preparar para poder, algum dia, agregar muito valor aos quadros da Globo. Foi pensando nisso que procurei a formação acadêmica mais sólida possível, com jornalismo, economia, extensão internacional e mestrado em economia e finanças.
Em 2011 abri mão de uma promissora carreira no mercado financeiro, para me tornar repórter nos quadros da Globo. Parecia uma decisão difícil, mas não foi: representava o começo de uma nova caminhada, com a qual eu sonhava desde tempos remotos.
Dentro da emissora tive a possibilidade de trabalhar nos mais diversos telejornais e funções, e participar de algumas das coberturas mais marcantes da história do nosso país. Fui repórter do Jornal da Globo, do BDSP, SPTV1 e SPTV2. Fui editor de economia e comentarista do Jornal das 10 e do Hora 1. Ajudei a criar e depois apresentar programas como o Conta Corrente e GloboNews Internacional, além de ancorar o próprio J10, participando de análises políticas e econômicas com algumas das maiores referências do ramo no jornalismo brasileiro. Nos últimos dois anos, tive a imensa alegria e desafio de comandar o Jornal Hoje, dividindo bancada com a talentosa, inspiradora e hoje amiga pessoal, Sandra Annenberg. E ainda pude apresentar o Fantastico e o Jornal Nacional em diversas ocasiões.
Olho no retrovisor com alegria e satisfação por toda essa caminhada, e sou muito grato a você e à Globo pela oportunidade que me deram de bater asas, trabalhar duro e voar alto, ocupando alguns dos mais importantes postos do telejornalismo brasileiro. Fico orgulhoso e feliz com o que pudemos construir e criar juntos.
Mas, assim como é preciso persistência e suor para crescer, é preciso sabedoria para parar.
Nas últimas semanas me vi mergulhado em uma infindável onda de ataques, com a vida dentro e fora da Globo vasculhada e revirada, sigilos fiscais violados, endereços expostos, trabalhos de exclusiva veiculação interna publicados, e até e-mails privados hackeados.
Quanto mais perto estamos do topo da montanha, mais forte é o vento. E é esperado que seja assim. Mas essa contínua campanha para me destruir e sangrar a qualquer custo não pode prosperar. Não faz bem nem a mim, nem à minha família e nem à emissora. Não é justo com nenhum de nós.
Por esse motivo, embora com aperto no coração, solicito meu afastamento do telejornalismo.
E o faço com o espírito leve e a consciência tranquila, porque jamais ajo de má fé. Jamais tive o intuito de burlar regras ou obter benefício que julgasse incompatível com as funções que ocupava na emissora (isso sim, seria incompatível com a minha história pessoal). Trabalhei, duro e dobrado, para complementar a renda, fora do horário da Globo, e dentro dos limites que ao meu ver eram compatíveis e aceitáveis. Se errei, não foi com dolo, e humildemente peço desculpas.
Estou convicto de que em cada um dos dias em que aqui estive tratei com respeito e lealdade a todos com quem interagi, independentemente da função ou hierarquia. E sempre enxerguei a todos não como colegas de trabalho, mas como amigos.
Saio, neste momento, certo também de que em cada um dos dias e anos em que aqui trabalhei, sempre atuei com absoluta paixão e dedicação para levar ao público a notícia da forma mais atraente, correta, completa e interessante possível.
Mais uma vez, muito obrigado pela parceria, pelas oportunidades e pela confiança.
Construímos uma história incrível.
Dony de Nuccio.”
Resposta de Ali Kamel, diretor-geral de jornalismo da Globo
“Caro Dony,
Agradeço sua carta honesta e transparente. Aceito o seu pedido de demissão com pesar mas, assim como você e pelas razões que você aponta, com a certeza de que é o melhor caminho a seguir. Entendo que é absolutamente sincero quando afirma que não agiu com dolo, e esta carta é uma prova eloquente disto. Nossa longa conversa de hoje cedo permitiu que eu entendesse as suas motivações e você entendesse as razões da Globo. Agradeço os anos em que trabalhou na Globo, que você descreveu tão bem. E o seu empenho e a sua dedicação. Um abraço e sorte na sua nova trajetória,