A festa de black music que revolucionou a cena cultural da juventude negra de São Paulo é o ponto de partida do documentário Chic Show, que acaba de ser lançado pelo Globoplay. Os bailes fundados por Luiz Alberto da Silva, o Luizão, em 1968, tiveram impacto na carreira de grandes nomes como Gilberto Gil, Jorge Ben Jor, Sandra de Sá e Carlos Dafé, que se apresentaram na festa. Também foram determinantes para Péricles, Thaíde, Rappin’ Hood, Júnior Vox, Marquinhos Sensação e Salgadinho, que frequentavam a festa. “A Chic Show criou um imaginário em toda uma população. Isso é muito difícil, poucas pessoas, festas, eventos, conseguem deixar a sua marca, fazer parte do imaginário coletivo. A ‘Chic Show’ foi importante para artistas brasileiros da soul music nos anos 1980. Eles passam a apostar mais no hip-hop, ajudando nessa ebulição do movimento. Foi o primeiro palco em que Mano Brown e Ice Blue, que formariam os Racionais, se apresentaram. Já nos anos 1990, incentivaram o pagode. Para além de uma festa, foi de uma importância cultural fundamental, o palco é plataforma para muitos artistas, de várias gerações”, diz Felipe Giuntini, que dirigiu o longa.
O documentário traz detalhes dessa história que começou há 50 anos de criação da festa. Boa parte é narrado pelo próprio Luizão. É claro que os depoimentos dos artistas que ali passaram também revelam muitas curiosidades. Mais do que reunir jovens para dançar e se divertir, a ‘Chic Show’ se tornou um espaço de acolhimento, resistência e enaltecimento da cultura negra. De acordo com o cantor Péricles, um dos entrevistados do doc, a festa surgiu num momento em que o jovem negro andava cabisbaixo. “A atitude de montar um baile faz com que esse jovem negro queira andar melhor vestido, com o seu cabelo, que é a sua coroa, cada vez mais para cima. Um porte maior, sabendo quem era, de cabeça erguida. Sem ter medo”, destaca. “É fascinante como a Chic Show criou um forte senso de identidade e conexão entre as pessoas. A Chic Show parece ter sido mais do que apenas um baile, um espaço onde as pessoas podiam se sentir parte de algo maior. A Chic Show é resistência! É o orgulho de uma juventude negra de São Paulo, dos anos 70, 80, e 90. Essa história representa a importância da preservação da memória da cultura negra desse país”, completa Giuntini. “É documentário do negro paulistano”, diz o diretor Emílio Domingos. Nos anos 1990, o Chic Show promoveu o pagode paulistano e projetou a música e a carreira de grupos como Sampa Crew, Soweto e Grupo Sensação.
O documentário Chic Show, que o Globoplay acaba de lançar, surgiu de uma conversa com amigos próximos ao músico Jorge Ben Jor e que estimulou Felipe Giuntini a mergulhar nessa história um pouco longe de sua realidade, a começar pela idade. O diretor nasceu bem depois que a festa foi lançada por Luizão. “Reconhecendo os limites da minha própria perspectiva como homem branco de classe média, convidei Henrique Mathias, diretor da Globo, para colaborar no projeto. Juntos, trabalhamos com Luizão, o fundador da Chic Show, e montamos um vídeo promo que chamou a atenção da Globoplay. Infelizmente, a pandemia atrasou o projeto e eu saí da Globo. Mas, fui reconvidado pra voltar e dirigir o filme com Emílio Domingos, já que Henrique estava comprometido com outro projeto”, recorda Giuntini.