O anúncio do fim do The Voice Brasil não pegou ninguém de surpresa na equipe de produção do reality, muito menos em outros departamentos da Globo. Desde o ano passado, eram fortes os comentários nos bastidores sobre a insatisfação dos executivos ligados à programação e ao comercial com a disputa musical, que já nenhuma versão do formato conseguia registrar os mesmos números de audiência de anos anteriores, muito menos vender espaços publicitários. De produção cara, com poucas possibilidades de ajustes artísticos (afinal os direitos não permitiam muitas adaptações) e sem repercussão na mídia e nas redes sociais era questão de tempo alguém ter a coragem de colocar um ponto final no programa. Em novembro, estreia a temporada de despedida, que será mais curta e fará uma espécie de resgate do que aconteceu no palco durante esses anos.
Tudo Previsível
O The Voice Brasil era considerado por muitos um formato previsível. Em casa, o público já sabia que, com um forte candidato no palco, os técnicos só iriam virar nos segundos finais para gerar suspense no telespectador, que na hora de escolher entre dois participantes o artista faria um longo discurso com direito ao famoso “ai, meu Deus tá difícil” para ser interrompido pelo apresentador com o “precisa ser agora”. É esse clima de excesso de ensaio que talvez tenha afastado o público no decorrer das várias temporadas, porque acompanhar boas interpretações musicais sempre é agradável para quem está em casa num final de noite.
Os executivos da Globo também ficavam extremamente incomodados com o fato de o programa nunca ter lançado uma grande voz no mercado fonográfico, como o próprio título do programa indicava. Além disso, nem os demais programas da Globo repercutiam os vencedores ou tratavam como estrelas. Quem passava pelo The Voice Brasil conseguia projetar sua carreira nos palcos, mas bem longe da emissora. Cantores que avançavam na competição conseguiam no mundo real aumentar o valor de seus cachês, mas raramente mudar de forma significativa a visibilidade de seu trabalho.
Novo Formato
Desde o início deste ano, o núcleo de Boninho (gênero variedades e realities) vem trabalhando num novo formato de competição musical, que vai muito além da apresentação no palco. Ainda guardado a sete chaves e com poucas pessoas envolvidas, a ideia desse novo programa é realizar o confinamento dos participantes que, além do desafio do convívio diário, teriam que passar por aulas e treinamentos e também por provas que trazem benefícios na competição. Nos bastidores da Globo afirmam que talvez esta seja a solução para um programa com forte pegada musical ampliar suas possibilidades de audiência e vendas comerciais.
Com o novo projeto, a intenção da Globo é reforçar às terças e quintas o espaço de realities shows, com Big Brother Brasil os quatro primeiros meses do ano, No Limite em mais dois meses e o musical com confinamento em mais dois meses. Ou seja, em pelo menos oito meses o telespectador da emissora acompanhará realities às terças e quintas, um gênero que atrai audiência, faturamento e pode gerar repercussão nos programas da própria Globo. Mas, para isso, os responsáveis pelos gêneros precisam conversar mais e criar um cross mais eficiente entre os realities, variedades, auditório e conteúdo.