Record completa nesta quarta-feira 70 anos de atividades. A emissora mais antiga em operação surgiu em 1953 dentro das empresas de comunicação da família Machado de Carvalho. Diferente da Tupi ou da TV Paulista, que estrearam respectivamente em 1950 e 1952, a Record não recorreu a profissionais que atuavam no rádio para montar suas primeiras equipes de produção e técnica. A nova televisão resolveu fazer uma espécie de academia com jovens talentos para formar seu time. Depois de algumas aulas e treinamentos, foram selecionados os primeiros funcionários, entre eles Nilton Travesso, com quem tive a oportunidade de trabalhar, receber orientações e, principalmente, ouvir muitas histórias desse fantástico veículos de comunicação.
Em seus primeiros anos, a Record buscou fazer uma programação com forte presença musical e com teleteatros, reunindo importantes estrela da época, como Doviral Caymmi, Inezita Barroso, Adoniran Barbosa e muitos outros. Além disso, contou com os grandes comunicadores da rádio, como Blota Júnior e Reali Júnior.
Época de ousadia e arriscar
Nilton Travesso contou muitas histórias de como cada programa foi desenvolvido, muitos entraram no ar em tempo recorde porque na rádio tudo era mais rápido e os diretores do grupo gostavam dessa agilidade. E não foi diferente com o futebol. A ideia de ir ao Rio de Janeiro transmitir uma final surgiu, foi feito o planejamento, distribuíram as torres pelo caminho e… bola na tela. Aliás, a Record foi a primeira a colocar uma Mesa Redonda para debater os lances do jogo na sequência da partida e, para que todos pudessem analisar os lances numa época em que não existia o vídeo-tape, filmava alguns momentos com material de cinema, revelava em tonéis instalados nos vestiários e projetavam as imagens numa parede branca. Ao vivo, a câmera mostrava para o telespectador o que os comentaristas estavam assistindo.
Nestes 70 anos da Record são muitos os momentos marcantes. Assim como lá no início foi necessário improvisar diante da nova tecnologia, na década de 1960 buscou-se soluções para as destruições provocadas pelos incêndios. Surgiram os grandes programas musicais no teatro. Elis Regina, Elizete Cardoso, Roberto Carlos, Agnaldo Rayol e muitos outros brilhavam nos palcos e nas telas. Essa época foi marcada pelos grandes festivais que lançaram a nata da MPB e pelo programa Jovem Guarda, que mais do que promover um novo gênero musical contribuiu para mostrar a força do jovem e mudar o comportamento da sociedade mais conservadora.
Dificuldades e virada
Os anos 1970 e 1980 não foram os mais fáceis para a Record, que registrava índices baixos em São Paulo e tinha dificuldades para se estabelecer como rede, afinal, a família Machado de Carvalho demorou para aceitar que nacionalizar a programação era o melhor caminho. Foi neste período também que Silvio Santos entrou como sócio, mas com a fundação da TVs, seu olhar já não estava tão atento para a Record. Em 1989, a emissora foi vendida para Edir Macedo, que colocou em prática um longo e caro projeto para fazer a emissora voltar a crescer.
A década de 1990 foi de grande investimento, a começar pela compra de toda a estrutura da TV Jovem Pan e a contratação de artistas como Ana Maria Braga, Eliana, Gilberto Barros, Milton Neves, Ratinho, Adriane Galisteu e Raul Gil. A Record começou a incomodar o SBT e, em 2004, colocou em prática o A Caminho da Liderança. Tenho amigos que trabalharam nesta época na emissora e dizem que não se media esforços para fazer acontecer as mais diferentes e ousadas ideias, até mesmo na dramaturgia.
A Record se transformou muito no decorrer dos seus 70 anos. Entre acertos e erros, fases boas e ruins, conseguiu deixar suas marcas na história da televisão brasileira. Atualmente, tem como desafio melhorar seu domingo e ampliar a vice-liderança na faixa da noite. Entretanto, à tarde chega a registrar mais que o dobro do SBT.