Estreante em novelas portuguesas, a autora Maria João Costa conquistou um sucesso incrível com Ouro Verde’ que desembarca nas telinhas brasileiras nesta segunda-feira (15), às 20h20 na Band. Em entrevista exclusiva ao Blog do Berg, a autora falou sobre o início da carreira, o Emmy que conquistou e até detalhes exclusivos de sua novela.
Formada em direito, com experiência no jornalismo, Maria João Costa revelou que o desejo de escrever novelas surgiu após o desafio de uma amiga, ela enxergou a necessidade de fazer algo melhor na televisão. A autora também comentou como trabalha com o público LGBT em suas novelas, além disso, falou sobre as apostas contrárias em relação ao Emmy.
“Muitos acreditavam que eu iria falhar”,
Diz a autora sobre ganhar o Emmy com sua primeira novela.
Sobre a parceria com o diretor Hugo de Souza, que também dirigiu a novela Orgulho e Paixão aqui no Brasil, Maria foi enfática: “Complexa. Temos personalidades vincadas e ideias próprias sobre como devia ser a novela. Talvez tenha sido essa mistura improvável, que deu lugar a uma negociação difícil e permanente, o que nos trouxe o Emmy”.
Leia a entrevista na íntegra:
De onde partiu a vontade de escrever uma novela?
Para lhe falar verdade a ideia foi de uma amiga minha com quem trabalhava na edição. Era ela a fã de novelas, e um dia me desafiou a escrever uma sinopse com o argumento de que o que estava passando na TV era muito fraco e que com certeza faríamos algo melhor. Foi isso que despertou meu bichinho. Por causa desse desafio, fui investigar o assunto, visionei os episódios de várias novelas e conclui que ela estava certa, então porque não tentar fazer algo diferente?
Foi assim que surgiu uma primeira sinopse feita a quatro mãos, que acabou por nunca ser produzida, nem sequer contratada, mas que foi o pontapé de arranque para me tornar novelista e para abrir as portas junto das emissoras de TV.
Ouro Verde acaba por surgir depois, na sequência do Jose Eduardo Moniz [uma espécie de Boni português], com quem já andava em conversações, me dizer que queria produzir uma novela cuja trama se passasse entre Portugal e Brasil, desafio que agarrei sem pestanejar, apesar de nenhuma sinopse me ter sido solicitada.
Você Morou por 5 anos aqui no Brasil, as tramas daqui te ajuduram a criar “Ouro Verde”?
Acredito que o ambiente que nos rodeia sempre interfere com a criação final. Se não tivesse esses anos de Brasil, talvez não me sentisse tão à vontade para escrever certas tramas de Ouro Verde.
Sua novela marcou a volta de Diogo Morgado a Portugal e para a TVI após um período nos Estados Unidos. Quando você criou Jorge Monforte/ Zé Maria, já sabia que seria ele a interpreta-los?
Não. Nem sonhava com isso. Mas foi fantástico poder contar com o Diogo, que deu corpo e alma ao Jorge Monforte de um jeito único. Sem o Diogo acredito que o Jorge Monforte não teria o carisma que tem.
Foi fácil escrever para grandes atores brasileiros, como Silvia Pfeifer, Zezé Motta e Paulo Gracindo?
Sem dúvida. Nas escaletas escrevia diretamente as falas deles no português do Brasil e depois as corrigia nos roteiros finais. Por outro lado, conviver com a realidade brasileira durante tantos anos, estar antenada com as problemáticas do país [coisa a que o meu trabalho como publisher na Leya me obrigava***] me ajudou muito a criar personagens sólidas.
*** Maria João Costa ajudou na implantação da editora, que pouco tempo depois não conseguiu se manter no Brasil .
Na trama foi inserida o preconceito com transgêneros onde foi contada a história de David [personagem vivido por Inês Nunes] como você ver hoje a diversidade nas novelas, acha importante debater o tema?
Acho que mais importante do que debater o tema, é normaliza-lo. Isso sim. E digo isso, porque acho que a forma de lidar com o preconceito é lidar com a diversidade com naturalidade, em vez de recorrer a um tratamento diferenciado. Pela minha experiência, o que observo é que as ditas minorias reclamam por igualdade, justamente, mas depois esperam receber um tratamento diferenciado. Ora isso, para mim, é contraditório. Dai falar na importância da normalização destes temas, para que as pessoas percebam que todos somos iguais, com direito a tratamento igual, independentemente do gênero (no caso).
Usando como exemplo a personagem transgênero que criei em Ouro Verde, e tentando não fazer spoiler, num dado momento da novela, mais à frente, há algo que acontece com David/Catarina, quando a personagem se intromete no caminho do nosso vilão, o poderoso banqueiro, que provocou algumas reações da comunidade transgênero, que exigia um tratamento diferenciado para a personagem tendo em conta que a nossa dramaturgia não costuma ter personagens dessas.
Acontece que de acordo com as regras da trama, se ela se cruza no caminho do banqueiro, tem de ter um rumo idêntico ao das demais personagens que se cruzaram com ele. E isso foi o que eu fiz. Mas o publico LGBT não gostou, porque queria que pelo facto da personagem ser transgênero tivesse tratamento diferenciado. Sou contra isso. Isso é promover a diferença.
“Acho que a forma de lidar com o preconceito é lidar com a diversidade com naturalidade, em vez de recorrer a um tratamento diferenciado”.
Maria João Costa sobre o preconceito com transgêneros abordado em Ouro verde.
Ouro Verde está sendo exibido em mais de 60 países,vencer o Emmy ajudou no sucesso de vendas, e qual é o sentimento de ganhar um prêmio tão disputado logo na sua estreia?
Acredito que sim. O Emmy é um galardão de prestigio que é considerado no mundo inteiro. É evidente que a novela poderia ter viajado para muitos países na mesma sem ele, mas acredito que assim tudo tenha acontecido mais depressa.
Ganhar um Emmy na estreia é, como pode calcular, a concretização do sonho perfeito! Fiquei muito feliz com esse reconhecimento, sobretudo por conta das pessoas que apostaram em mim contra tudo e todos [não se esqueça que eu não tinha experiência na área, e muitos foram aqueles que apostaram que eu ia falhar]. Não poderia haver um jeito melhor de mostrar, para além do sucesso que a novela já tinha alcançado em Portugal, que a aposta em mim tinha sido acertada.
“Ouro Verde é até agora a maior audiência de novelas da década de 2010, seu último capítulo bateu recorde, atingindo mais 1 milhão e 700 mil espectadores uma média de 18 pontos e 35% de share”.
Segundo dados da GFK.
Você assiste novelas brasileiras, qual sua trama preferida e seu autor (a). Tem vontade de escrever para os brasileiros?
Assisti a várias quando era mais nova, e gostava muito. Depois me afastei das novelas por muitos anos, e voltei quando decidi que ia começar a escrever. Não tenho um autor preferido, tenho novelas preferidas, ou episódios de novela preferidos. Já disse em mais do que uma ocasião que gostei muito do Clone, da Gloria Perez, e mais tarde da Avenida Brasil do João Emanuel Carneiro. Mas por exemplo, adorei o primeiro capítulo da Babilônia, que é só por si uma lição de roteiro, apesar da novela não ter tido o sucesso esperado. Como adorei todo o arranque dos Órfãos da Terra, da dupla Thelma e Duca, mais recentemente.
Sobre escrever para o Brasil, é claro que adoraria escrever para o publico brasileiro. Tudo dependeria do desafio em particular que me fosse apresentado e por parte de quem. Não sou o estilo de pessoa que abdica da integridade e dos valores em que acredita por conta de um cheque chorudo. Por exemplo, seria incapaz de trabalhar com alguém que se tivesse apropriado de uma ideia minha no passado, mesmo que a mesma pessoa estivesse disponível para me oferecer um ordenado milionário.
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O que o público pode esperar de “Ouro Verde”?
Uma novela cheia de emoção, com todos os ingredientes que se esperam de um folhetim, amor, vingança, intrigas familiares, humor, etc, sem prejuízo da atualidade que é muito presente na novela, com temas importantes como o da conservação da Amazônia e os perigos do agro negocio, ou da corrupção no mercado financeiro a aparecerem no centro da ação.