A guerra pela audiência não está mais restrita aos canais da TV aberta. Agora, Globo, Record, SBT, Band, Rede TV e outras emissoras e canais precisam se preocupar com o streaming. Já foi a época em que a TV determinava a hora e o que assistir. Desde a pandemia, aumentou o número de pessoas que consomem audiovisual nas plataformas digitais e, muitas vezes, assistem o que a TV aberta produziu. Só que na hora e no lugar em que o público quer.
Por isso, no mercado audiovisual brasileiro já não se fala somente na audiência para atrair anunciantes, mas no impacto do programa, ou seja, em quantas pessoas atinge em outras plataformas e sua vida útil.
Números do mercado
Só para se ter uma ideia, em novembro de 2023, os vídeos das plataformas digitais alcançaram quase 50 milhões de pessoas em pelo menos um minuto. A TV aberta chegou a quase 62 milhões. Mas, a gente assiste conteúdo digital no aparelho de televisão: 88% do acesso a plataformas de streaming acontece através da TV da sala ou do quarto.
A TV aberta é mais velha. 34% do público tem mais de 60 anos e 41% está entre 35 e 59 anos. Já o digital tem 43% da sua plateia entre 25 e 49 anos de idade. E um detalhe: 63% das pessoas assistem TV aberta e streaming, 26% só TV aberta e 7% só o digital.
No mercado audiovisual brasileiro, a Globo lidera com 28% do share, o Youtube está em segundo lugar com 13%. Depois aparecem Record, TV Paga e SBT. A Netflix ocupa a quinta colocação com 3,5% do público.
É uma nova realidade.
Um bom exemplo da briga intensa entre a TV aberta e o streaming é o Pipoca da Ivete. O programa tem em seu comando uma das maiores estrelas da música brasileira, mas é muito engessado com os seus vários formatos. Por isso mesmo, não teve força diante do digital. Durante toda a última temporada, perdeu para o streaming e também para o Domingo Legal.
Aliás, em 2023, os serviços digitais se estabeleceram aos domingos e levaram vantagem até dos filmes exibidos pela Globo. Domingo é dia de maratonar séries e filmes. Por isso, os especialistas em comunicação afirmam que é urgente a TV encontrar um caminho para reconquistar quem saiu dela.
Será que volta?
Em 2023, o SBT viveu um dos piores anos de sua história. Perdeu muita audiência, viu a Record se distanciar na vice-liderança e a Band encostar. Aliás, em várias tardes a Band fechou na média à frente do SBT. Por isso, Daniela Beyruti dedicou o segundo semestre de 2023 para estudar e redesenhar o SBT.
Suas apostas incluem revista eletrônica, programa popular no fim da tarde e programas com Youtubers. A CEO do SBT quer uma nova geração de apresentadores: Virgínia Fonseca, Luccas Neto, Lucas Guimarães, Tirulipa ocuparão o sábado. E, para as madrugadas, uma sequência de podcasts de sucesso. Será que produtos originais da internet funcionarão na TV aberta? Só o tempo dirá!
Mas, essa é uma ação necessária. O SBT precisa frear sua queda e reconquistar público porque a Band se aproximou e, agora em 2024, terá Walter Zagari, Paulo Franco e outros executivos numa mistura de comercial e artístico em mais uma tentativa da emissora da família Saad em crescer com sustentação financeira.
Os mais jovens se distanciam cada vez mais da TV aberta com sua programação linear. Os canais em sistema aberto precisam renovar o público para se manter relevante, um grande desafio que está nos planos de todas as redes para este ano. Os próprios executivos entendem que TV aberta que não se mexeu e deixou as plataformas ganharem espaço.
Produções Nacionais
Atualmente, quando se fala em série, imediatamente vem à cabeça as produções das plataformas digitais. Elas conquistaram espaço e fazem muito sucesso. Nesse sentido, não deixamos nada a dever às produções dos Estados Unidos, Inglaterra, Espanha ou Coréia. Os Outros, Olhar Indiscreto, Cangaço Novo, Rio Connection, Betinho, O Negociador e José e Durval são só alguns exemplos do que garantiu acessos e repercussão nos últimos meses.
O fato é que 2023 deixou bem claro que não produzimos mais televisão ou streaming, afinal, não são mercados separados. Produzimos audiovisual que ocupará alguma plataforma.
Um ano difícil
2023 foi um ano difícil para quem faz TV aberta, fechada ou o digital. A Globo divulgou que teve prejuízos com os canais por assinatura. E é compreensível, afinal, muito do que é oferecido ali já está no digital. Os produtores do streaming também reclamaram dos orçamentos cada vez menores. Esse mercado vive outra realidade.
Já foi a época dos altos salários e de se gastar só pelo artístico. Atualmente, mais vale uma boa ideia barata do que um programa cheio de efeitos e detalhes no cenário.
Não há como negar que, cada vez mais, a TV viverá do factual, grandes eventos e de uma dramaturgia eficiente.
Concorda com isso?