Na noite deste sábado (19), a TV Globo divulgou um editorial no Jornal Nacional sobre as 500 mil mortes por covid-19 no Brasil. O telejornal começou a edição em tom de luto, com os apresentadores William Bonner e Renata Vasconcellos vestindo preto, e terminou com a leitura do texto que não menciona o nome de autoridades.
No entanto, ao falar sobre o tratamento precoce para a covid e a recusa em comprar vacinas a tempo, a emissora deixa evidente que se dirige ao presidente Jair Bolsonaro. “A aposta insistente e teimosa em remédios sem eficácia, o estímulo frequente a aglomerações, a postura negacionista e inconsequente de não usar máscaras e, o pior, a recusa em assinar contratos para a compra de vacinas a tempo de evitar ainda mais vítimas fatais”.
Em outro momento, o editorial fala da CPI da Covid, no senado, e crava: “Haverá Consequências”. A TV Globo ainda voltou a falar sobre o momento difícil em que passa o jornalismo, mas se coloca em primeiro plano e diz estar “há um ano e meio, com base na ciência, cumprindo o dever de informar, sem meias palavras”. O canal ainda afirma no editorial que o seu jornalismo “paga um preço”.
William Bonner ainda afirmou que a emissora não teme as críticas: “Não importa. Nós seguimos em frente, sem concessões. E seguiremos em frente, sem concessões. Porque tudo tem vários ângulos e todos devem ser sempre acolhidos para discussão. Mas há exceções. Quando estão em perigo coisas tão importantes como o direito à saúde, por exemplo. Ou o direito de viver numa democracia. Em casos assim, não há dois lados. E é esse o norte que o jornalismo da Globo continuará a seguir”.
O Jornal Nacional começou a edição deste sábado com uma longa escalada, sem trilha de fundo, e com os apresentadores vestindo preto. A emissora dedicou uma reportagem de 5 minutos e 38 segundos para cobrir as manifestações contra Bolsonaro.
Leia o editorial na íntegra:
“Em agosto de 2020, quando o Brasil ultrapassou o registro escandaloso de 100 mil mortes pela Covid, o Jornal Nacional se manifestou sobre essa tragédia num editorial. Parecia que o país tinha superado um limite inalcançável, 100 mil mortos. Neste sábado (19), são 500 mil. Meio milhão de vidas brasileiras perdidas.
O sentimento é de horror e de uma solidariedade incondicional às famílias dessas vítimas. São milhões de cidadãos enlutados.
Hoje, é evidente que foram muitos –e muito graves– os erros cometidos. Eles estão documentados por entrevistas, declarações, atitudes, manifestações.
A aposta insistente e teimosa em remédios sem eficácia, o estímulo frequente a aglomerações, a postura negacionista e inconsequente de não usar máscaras e, o pior, a recusa em assinar contratos para a compra de vacinas a tempo de evitar ainda mais vítimas fatais.
No editorial que marcou as 100 mil mortes, nós dissemos que era preciso apurar de quem é a culpa. Dissemos textualmente que esse momento chegaria.
Desde o início de maio, o Senado está investigando responsabilidades. Haverá consequências. E a mais básica será a de ter levado ao povo brasileiro o conhecimento sobre como e por que se chegou até aqui.
Quando todos nós olharmos para trás, quando nos perguntarem o que fizemos para ajudar a evitar essa tragédia, cada um de nós terá a sua resposta. A esmagadora maioria vai poder dizer, com honestidade e com orgulho, que fez de tudo, fez a sua parte e mais um pouco.
Nós, do Jornalismo da Globo, estamos há um ano e meio, com base na ciência, cumprindo o nosso dever de informar, sem meias palavras. Muitas vezes nós pagamos um preço por isso, com incompreensões de grupos que são minoritários, mas barulhentos. Não importa. Nós seguimos em frente, sem concessões. E seguiremos em frente, sem concessões.
Porque tudo tem vários ângulos e todos devem ser sempre acolhidos para discussão. Mas há exceções. Quando estão em perigo coisas tão importantes como o direito à saúde, por exemplo. Ou o direito de viver numa democracia. Em casos assim, não há dois lados. E é esse o norte que o Jornalismo da Globo continuará a seguir”.
Leia também: TV Globo emociona público com lançamento de campanha no Jornal Nacional