O Sindicato dos Jornalistas da Bahia (SINJORBA) se manifestou de forma contundente sobre o episódio exibido na quinta-feira (19), no programa Alô Juca, da TV Aratu (SBT). Na ocasião, o apresentador Marcelo Castro acionou, ao vivo, um cinegrafista da emissora que se deslocava em uma motolink e perguntou se ele estava armado e pronto para enfrentar um suspeito de assalto. O cinegrafista fez um gesto de positivo e usou a gíria “a Bíblia” para se referir à arma.
Em nota enviada ao Portal Alta Definição, o presidente do SINJORBA, Moacy Neves, afirmou que o episódio ultrapassa os limites da atividade jornalística e representa uma ameaça à segurança de todos os profissionais da imprensa.
“A TV Aratu incentivou um funcionário a perseguir um suposto bandido, armado, o que coloca em risco todos os profissionais da imprensa que atuam em coberturas externas, sejam jornalistas ou cinegrafistas. A partir de agora, nossos colegas podem tranquilamente ser recebidos a bala”, disse Moacy.
Na avaliação do sindicato, o comportamento da emissora representa um grave atentado aos princípios fundamentais do jornalismo e desrespeita o papel social da profissão. Além disso, a nota destaca o uso irregular e crescente de motolinks — modalidade que expõe os profissionais a riscos físicos, acúmulo de funções e, agora, à possibilidade de confronto armado.
“O Jornalismo sempre foi uma profissão de risco, apesar de até hoje não ter reconhecido o direito de seus profissionais à periculosidade, mesmo com a prova dos numerosos registros de violência à qual estamos expostos todos os dias. Porém, a irresponsabilidade do apresentador e, por tabela, da TV Aratu, de incentivar a perseguição a um suposto bandido por um funcionário da emissora, armado, coloca essa realidade em patamar mais absoluto”, declarou o presidente do sindicato.
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Moacy ainda reforçou que a atitude coloca o jornalismo em xeque e prejudica toda a categoria.
“Ademais, este comportamento coloca o Jornalismo em xeque, ao pisotear suas bases, ajudando a destruir seu papel na construção da cidadania e de uma sociedade mais moderna e avançada.”
O uso do Motolink
Além das críticas à postura editorial da TV Aratu, o SINJORBA apontou falhas trabalhistas graves na utilização do motolink como recurso de reportagem.
“Sim, se os patrões da comunicação já não estivessem apagando a importância da atividade de motolink para a agilidade do jornalismo, com o conjunto de ilegalidades trabalhistas que comete na exploração cotidiana de profissionais que cumprem tripla (e insegura) função, agora temos um adicional ainda mais trágico: o incentivo ao uso de armas e a possibilidade da troca de tiros com bandidos, a premiar o pior dos papéis que um veículo e um profissional de imprensa podem cumprir.”
O que diz a Constituição?
O sindicato também citou a Constituição Federal e o Código Penal para lembrar que profissionais de comunicação não devem exercer papel de polícia ou justiça com as próprias mãos.
“Um profissional de comunicação não pode, em nenhum aspecto, substituir agentes de segurança. A Constituição Federal, em seu artigo 144, define o poder de polícia, suas prerrogativas e delimitações. Já o artigo 345 do Código Penal Brasileiro, também conhecido como ‘exercício arbitrário das próprias razões’, proíbe o ato e define as penas ao infrator. Cabe ao Ministério Público agir.”
Mais polêmicas na TV Aratu/SBT
O caso também remete a outro episódio recente envolvendo a mesma emissora. Em abril, uma repórter e um cinegrafista da TV Aratu foram ameaçados de morte durante uma cobertura em frente a uma unidade de saúde em Salvador. O sindicato lamenta que o episódio não tenha servido de alerta para a emissora.
“O caso envolvendo uma repórter e um cinegrafista da mesma TV Aratu, ameaçados de morte em frente a uma unidade de saúde, em Salvador, em fins de abril passado, após uma pauta mal produzida, parece não ter ensinado nada à emissora.”
“Aliás, a sensação é que este veículo desistiu do Jornalismo e trilhou um caminho tortuoso que ignora o dano de crimes e criminosos à sociedade, preferindo o ganho fácil que a cobertura sensacionalista pode lhe conferir.”
“Vamos torcer para que a função de trocar de tiros com bandidos, que poderia ser a quarta, tenha sido apenas um ato falho de um apresentador sedento por audiência e um veículo de comunicação descuidado.”
O Portal Alta Definição também procurou a TV Aratu para comentar o caso. Até o momento da publicação desta reportagem, a emissora não respondeu. Assim que houver retorno, esta matéria será atualizada com o posicionamento oficial.