Na noite deste domingo (05), o Fantástico exibiu uma entrevista exclusiva com Sari Corte Real, a primeira-dama da cidade de Tamandaré, em Pernambuco e ex-patroa da mãe do menino Miguel. Sari foi indiciada esta semana por abandono de incapaz no inquérito que investiga a morte do garoto de apenas 5 anos de idade.
Há um mês, Sari deixou o menino sozinho elevador, ele seguiu para o nono anda r do prédio e de lá caiu. Uma tragédia que chocou o estado de Pernambuco, o Brasil e o mundo.
Pela primeira vez na televisão, Sari Corte Real falou sobre o caso com a repórter Beatriz Castro, da Globo em Pernambuco. A mulher recebeu o Fantástico e optou por falar sem máscara, com o intuito de mostrar todo o rosto. Ao contrário da mãe do garoto, ela não chorou, apenas ficou sem palavras quando a repórter perguntou o que ela achava da decisão do delegado.
“Não apertei o botão”
Repórter: Ele abriu a porta sozinho pra ir atrás da mãe?
Sari: Abriu a porta sozinho para ir atrás da mãe.
Repórter: E o que aconteceu quando você vai atrás dele e vê que ele está indo para o elevador?
Sari: Ele corre para o elevador, chama o elevador. Em um instante ele chega. Aí, quando abre a porta, eu digo: Miguel, você não vai descer. Volta para casa, espera sua mãe.
Repórter: Você não apertou o botão da cobertura?
Sari: Não. Eu só botei a mão, fazendo como se eu fosse acionar.
Repórter: Por que que você fez isso?
Sari: Para ver se eu conseguia convencer ele a sair. Se dessa forma, se ele achasse que ele ia ficar lá, ele fosse sair.
Neste momento, a reportagem lembrou que uma Lei Municipal proíbe que crianças até 10 anos de idade, andem sozinhas no elevador.
Mirtes rebate Sari
Repórter: Sari, ele não estava acostumado com elevador. Você não achou que ele poderia correr risco ali sozinho?
Sari: Não, isso não me passou pela cabeça.
Repórter: Que é que você achou que poderia acontecer se ele ficasse sozinho no elevador?
Sari: Eu não achei que seria essa tragédia. Eu acreditei que ele voltaria para o andar, que ele voltaria para o quinto andar, até porque ele sabia o número. Eu acreditei que ele voltaria para o andar.
E conversa com Mirtes, a mãe de Miguel, ela negou que o garoto conhecia todos os números: “Miguel tinha um pouco de dificuldade com alguns números, ele tinha facilidade com 0 zero, número um, número dois, quatro, sete. E assim alguns números a gente tinha que dizer a ele como fazer, como o número nove”, disse a mãe para Beatriz Castro que ainda enfatizou: Ele não sabia andar de elevador.
Repórter: Quando você viu o Miguel no chão, e a mãe desesperada.
Sari: No primeiro momento, o que eu imaginei foi em socorrer, o que a gente podia fazer por ele… Eu dirigi, só Deus sabe como eu dirigi. Nunca cheguei tão rápido na minha vida num hospital. Eu fiquei com ela lá até por volta de 16h30, 16h45, que foi quando eu tive que vir para casa. Minha amiga precisava voltar para casa, eu precisava ficar com Sofia.
Não observou para onde o menino estava indo
No inquérito, a o qual o ‘Fantástico’ teve acesso com exclusividade, o delegado afirmou que, quando a porta do elevador se fechou, Sari voltou para o apartamento sem acompanhar a movimentação de Miguel. Algo que poderia ser feito através do visor que fica do lado de fora do elevador.
Repórter: O delegado coloca no relatório que você não olhou no painel para saber o que aconteceu com o elevador: se ele subiu, se ele desceu. Você não se preocupou com o aconteceu depois?
Sari: Na mesma hora eu liguei para Mirtes. Mas, ao mesmo tempo, eu estava tentado acalmar a minha filha, que também estava desesperada com a situação. Eu me via ali, naquela situação, com aquela movimentação: minha filha, ele. Eu me senti ali, sem conseguir falar com Mirtes, com a minha filha. Foi tudo muito rápido. Foi tudo muito rápido.
Repórter: Mas muita gente pergunta e perguntou até para você: porque que você não puxou e tirou o menino do elevador?
Sari: Porque o maior contato que eu tive com Miguel foram nesses esses dois meses na pandemia e, todas as vezes que precisou ser chamada a atenção dele, todas as vezes, eu solicitava que ou a mãe ou a avó fizessem isso. Eu nunca me dirigi diretamente a ele para repreender ele em nada. Sempre a mãe ou a avó. Eu não me senti segura para isso.
Rebate depoimento da manicure
Um outro detalhe importante do inquérito foi revelado pela manicure que atendia Sari. N o depoimento, ela afirmou que “Sari sentou e tentou continuar o tratamento das unhas, enquanto ligava para Mirtes”.
Repórter: Você tentou voltar fazer a unha?
Sari: Não deu tempo de eu sentar, não deu tempo de eu sentar.
Repórter: Você voltaria a fazer a unha? Era esse o objetivo?
Sari: Jamais. Não, naquela situação não tinha como, não tinha cabimento. Não tinha cabimento um negócio desse, não tinha cabimento.
“Sinto que fiz o que podia”
Repórter: Você sente algum tipo de culpa? Ou de arrependimento?
Sari: Eu sinto que eu fiz tudo que eu podia e, se eu pudesse voltar no tempo, eu voltava. Se eu soubesse que tudo isso ia acontecer, eu voltava e ainda tentava fazer mais do que eu fiz naquela hora.
Repórter: O que que você faria?
Sari: Esperava mais. Não sei, não sei dizer. Eu só sei que eu fiz, naquela hora, tudo o que eu podia. E, em nenhum momento, eu fiz nada prevendo o que aconteceu, em nenhum momento eu fiz nada prevendo o que aconteceu.
Irregularidade na família
No meio de toda a tragédia, surgiu na imprensa uma irregularidade envolvendo o marido de Sari Corte Real. Mirtes e a mãe dela, Marta, trabalhavam como doméstica para a família do prefeito, mas eram pagas pela prefeitura do município de Tamandaré. Assim, o Tribunal de Justiça de Pernambuco, determinou nessa semana o bloqueio parcial dos bens do prefeito Sergio Hacker Corte Real.
Por outro lado, o Ministério Público entrou com um ação para que Sergio responda por improbidade administrativa. A mãe e a avó de Miguel, não receberam nada, após a morte do menino.
Para o Fantástico, o prefeito disse em nota que “não foi comunicado sobre a ação judicial”. Ele ainda disse que vai recorrer da decisão de indisponibilidade de bens, uma vez que considera uma medida “completamente desnecessária”.
Sem palavras
Ao concluir o inquérito, o delegado mudou o entendimento inicial sobre o crime cometido por Sari Corte Real, os depoimentos e a perícia foram determinantes para essa mudança. Antes altuada por homicídio culposo, quando não há intenção de matar, ela agora vai responder por abandono de incapaz, que resulto em morte.
Questionada sobre essa mudança, Sari ficou alguns minutos sem saber o que responder.
Repórter: O que você achou do resultado do inquérito: a mudança da tipificação para o crime, para um crime mais forte? Você não esperava?
Sari: Não, não dessa maneira. Não dessa maneira.
Sem medo de prisão
Repórter: Você tem medo de parar na prisão, Sari?
Sari: Não, até hoje eu estou aqui firme, porque muita gente depende de mim. E, se lá na frente, o resultado for esse, eu vou cumprir o que a lei pedir. Eu acho que está na mão da Justiça, não cabe a mim, não cabe à mãe de Miguel julgar, não cabe à sociedade. Cabe à Justiça. Eu vou aguardar o que a Justiça decidir.
Repórter: Você pediu perdão à Mirtes?
Sari: Pedi.
O desfecho de toda essa triste história está nas mãos da justiça.
Mãe de Miguel clama por justiça
A reportagem terminou com um pedido de justiça de Mirtes, que desabafou chorando.
“Eu não tenho mais o meu filho, eu não tenho mais meu neguinho por conta de uma irresponsabilidade dela, por conta da vaidade dela, eu não tenho mais meu filho. Ela hoje, graças a Deus, tem dois filhos. Eu não tenho mais nenhum para dar amor, carinho, atenção, dar dengo, como eu dava ao meu filho. Dava tanto dengo ao meu neném”.
Mirtes, mãe de Miguel.