A volta de Alma Gêmea à tela da TV Globo é um exemplo de como a produção, os conceitos e as apostas artísticas mudaram nos últimos anos. A novela de Walcyr Carrasco entrou no ar em 2005, uma época em que a preocupação em buscar atores certos para os papeis não existia. Além disso, representar a diversidade brasileira no ar passava longe das decisões.
19 anos separam a exibição inédita e a atual reprise no Vale a Pena Ver de Novo. E é só olhar na tela para entender a importância da escalação correta do elenco. Priscila Fantin interpretou a protagonista Serena, uma jovem de uma tribo indígena. A atriz foi escolhida para o papel por vários fatos, entre eles o talento, mas também por ter um tipo físico que, com o apoio da maquiagem, chegava perto de uma jovem de um povo originário. André Gonçalves, pelos mesmos motivos, interpretou o índio José Aristides, um guerreiro apaixonado pela protagonista, mas que faz de tudo para casar com ela.
Na época houve um certo estranhamento do público e, com o tempo, criou-se até memes destacando o quanto a Serena era branca. Pode parecer um detalhe, mas ao assistir agora Alma Gêmea o telespectador tem bem clara a sensação do quanto Priscila Fantin e André Gonçalves não representavam os personagens. Além disso, não há como discutir a importância de ter os atores certos para representar corretamente a história.
Há bons atores com todas as características
O mesmo Walcyr Carrasco trouxe recentemente uma história onde a cultura indígena foi muito melhor representada. Em Terra e Paixão, a índia Iraê foi muito bem defendida pela atriz Suyane Moreira, neta de indígena. Mas, não parou por ai. O pajé Jurecê ganhou vida a partir do belo trabalho de Daniel Mundukuru, nascido no povo Mundukuru, no Pará. Entretanto, a novela ainda contou com Raoni Guató como Mapu e Rafaela Cocal como Yandara.

Os quatro artistas escalados para os papeis certos. E essa representatividade garante uma veracidade maior às falas dos personagens e às tramas narradas a partir deles. E é isso que a teledramaturgia moderna necessita. Não é mais o momento para pegar um ator branco e tentar transformá-lo para outra etnia. Precisamos e devemos representar a vida como ela é. É fundamental dar oportunidades a todos e mostrar que o talento vai muito além daquelas estrelas inspiradas nas divas americanas, mas que em nada representam o público brasileiro.
Não devemos enterrar ou condenar uma obra feita no passado com conceitos e técnicas errados para os dias atuais. Mas, é fundamental que tenhamos bem claro que Alma Gêmea recorreu aos recursos disponíveis em 2005 e com os vícios de produção da época. Lá, ninguém achava estranho Priscila Fantin viver uma indígena, mas hoje a gente não aceita um ator no lugar errado.
Ainda bem que a televisão se obrigou a evoluir, evitar o preconceito do passado e a representar melhor o Brasil.
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