Aparentemente a Record TV tem tudo para produzir um novo hit dramatúrgico ou aquele famigerado novelão. Ao começar pela grandiosa estrutura que conta com ótima qualidade em suas produções, capricho que pode ser visto através dos cenários, figurinos, elenco, autores e direção. Mas é claro, falta alguma coisa para atrair e consolidar mais público.
Não adianta colocar a culpa da perda de audiência na internet, nos streamings como Netflix, porque em termos de comparação a Globo segue praticamente intacta e o SBT consegue alcançar números expressivos com suas produções infanto-juvenis.
Passado empolgante
Nos anos 2000 a RecordTV iniciou um processo de reestruturação e investiu milhões em uma projeto audacioso para alcançar a liderança. No campo dos folhetins que tiveram mais audiência, essa foi a década onde a emissora mais acertou, vide “A Escrava Isaura”, “Prova de Amor”, “Vidas Opostas”, “Bicho Do Mato”, “Caminhos do Coração” e “Chamas da Vida”.
Atualidade sem brilho
Após o fenômeno “Os Dez Mandamentos” a emissora resolveu apostar todas as suas fichas nos folhetins bíblicos. O que parecia um filão infalível, acabou se desgastando ao longo de cada produção. Desde a primeira exibição de “Jesus” que a emissora não emplaca um folhetim acima dos 10 pontos de média. Em 2019 a Record TV voltou com as contemporâneas, que também não empolgaram muito. A repercussão e audiência de “Topíssima” e “Amor Sem Igual” são parecidas, e giram em torno de 8 pontos na grande São Paulo.
Para piorar, a escolha equivocada de “Apocalipse” demonstra um forte apelo da Universal em evangelizar. Apesar da novela ter inúmeros efeitos especiais e ser atual, a trama é confusa, pesada e não se mostra adequada para tempos de pandemia, onde o telespectador busca um afago na frente da TV. Não deu outra, os números despencaram. E ao invés de colocarem no ar outras produções como “Belaventura”e “Balacobaco”, para dar um descanso nas tramas inspiradas na Bíblia, empurraram logo duas de uma vez. Tudo bem que “Jesus” parecia perfeita pela mensagem de esperança e tudo o que representa , só que não às 21:40 da noite e recebendo em baixa de sua antecessora.
E as séries?
Em uma época onde os seriados se tornam cada vez mais consumidos e prestigiados no Brasil e no mundo, nem um sitcom a emissora produz. O último investimento nessa área foi “Terrores Urbanos”, que não atingiu índices satisfatórios. “O Figurante”, especial de fim de ano em 2019, foi usado como teste e ainda não foi para a frente. As séries seriam interessantes até mesmo para turbinar as assinaturas do Play Plus. O sábado, por exemplo, é um dia que se encaixaria perfeitamente um produto como esse. Vale ressaltar que “A lei e o Crime” fez bonito e o resultado foi muito positivo em 2009, tanto que a mesma foi reprisada em 2013 e em 2018.
Poucos autores
Com as recentes baixas de Gustavo Reiz e Emílio Boechat, Cristianne Fridman e Paula Richard são as únicas autoras na casa. A primeira acumula a autoria de três novelas seguidas, sem descanso, e caminha para uma nova temporada de “Topíssima”, a segunda já entregou a sinopse de mais uma bíblica “Atos Dos Apóstolos”.
Abrir mão de medalhões como Marcílio Moraes e Carlos Lombardi é um risco que se corre. Apesar de Marcílio ter escrito apenas três novelas em quase uma década de contrato, todas se saíram muito bem para os padrões da empresa. Carlos Lombardi não teve outra oportunidade, e a elogiada “Pecado Mortal” foi seu único tiro.
Uma telenovela tem que ser bem escrita, precisa chamar atenção e dosar dos clichês para encantar e manter seu público fiel a cada capítulo. Faltam textos primorosos e mesclados de criatividade, como é o caso da Vivian de Oliveira, Marcílio e Lombardi. Faltam tramas que façam barulho como as de Tiago Santiago. Fridman já mostrou a que veio, mas todo autor precisa de um descanso. Faltam histórias mais empolgantes como ocorreu tempos atrás, falta mais brilho, falta uma renovação.
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