“Tudo muda o tempo todo no mundo”, já dizia o grande Lulu Santos, mas boa parte do público não aceita tão facilmente mudanças quando o assunto é novela. Recentemente, uma pesquisa no Instagram apontou que para 60% das pessoas as novelas atuais não deveriam ser tão carregadas de filtros e precisam usar e abusar da boa e velha artimanha de armar situações que só uma boa ficção consegue armar, para assim, criar interesse no público. É grande a torcida para que novelas não venham com o “politicamente correto” embutida na história e que ,ao ligar a tv, esse público quer ver uma novela sendo uma novela.
Novelas de uns anos para cá
Não irei muito longe para exemplificar o que irei relatar. O ano é 2019 e a Globo encomendou ao expert Walcyr Carrasco uma novela para alavancar exponencialmente a audiência do horário nobre que caiu drasticamente com a exibição de O Sétimo Guardião, novela esta que a Globo quer limar de seus acervos. A saga de Maria da Paz era uma novela que contava o que todo mundo já viu, só que com outras caras, outro formato e ambientes. É a história da mulher que vence as adversidades da vida e começa a prosperar na cidade grande. Mas novela é novela e por um golpe armado pela filha, Maria da Paz perde tudo. Desolada não se entrega e volta a vender bolo. Resultado: vence na vida novamente.
Os números de A Dona do Pedaço não deixam dúvidas. Foi um sucesso mesmo com a avalanche de críticas ao texto raso e grosseiro de Walcyr. Foi sem dúvida um hit que fez o horário nobre ter a cara e os números de um horário nobre.
O ponto desta dissertação é exatamente o que vem após a saga da boleira. A visceral Amor de Mãe, novela de estreia de Manuela Dias, aclamada roteirista da série Justiça. Lurdes, Vitória e Telma eram as mães que costuravam suas histórias nas diversas histórias secundárias da trama. A proposta da novela era perceptível: uma novela, mas com ares de série, sem grandes impactos nos ganchos e mais corrida, tanto que em diversas cenas e enquadramento pode se ter a sensação de que o telespectador está dentro do mesmo ambiente que o personagem.
Destaque para a história que não poupou drama e foi no cerne de cada dilema dos personagens. As agressões sofridas por Betina eram verossímeis a ponto de causar espanto. O Brasil nu e cru retratado na TV. A pandemia de 2020 devastou tudo, a novela sofreu um corte voltando quase dois anos depois em 25 capítulos que, para muitos, não acrescentou nada na trama inicial.
A proposta de Amor de Mãe era uma só, mudar o jeito que se conta uma história. A novela sofreu com rejeição de uma parte da audiência cativa do horário. Muitos não compraram a ideia da autora, mas parecia que a Globo queria inovar. Dois anos depois Um Lugar ao Sol, de Licía Manzo, seguia a mesma proposta. Resultado devastador, a novela, talvez tenha sofrido mais que Amor de Mãe para angariar bons números. Pantanal viria na sequência para estancar a fuga e, de quebra, levantar seus números.
Nos horários das 18h e 19h tudo seguia como sempre, com novelas de época e um humor mais ou menos ácido. Com toda essa mudança para ficar talvez mais próximo do que uma série, pelo menos em aspectos visuais, a novela não cativou a audiência que ainda gosta do folhetim em tons mais claros e com a bossa nova ao fundo. A Globo vem sofrendo para manter “preso” o telespectador em frente a TV.
Novelas no Streaming
Há uma contrapartida interessante nesse “estica e puxa” e a emissora está atenta, tanto que está trazendo o clássico de volta para segurar a atenção e manter em níveis mais altos números de pessoas felizes com suas maratonas. As recentes novelas disponibilizadas pela plataforma provam que essa dedicação é real. Pátria Minha, novela nunca nem citada para voltar em uma reprise, aportou na plataforma e fez sucesso de cara. Escrava Isaura, A Sucessora, Força de um Desejo, entre muitas.
No âmbito do streaming, a Globo vem colhendo bons frutos e pretende não mexer nesse time que está ganhando. E quando um ganha, o outro perde e a TV vem trabalhando com afinco e dedicação para levar a novela que agrada a maioria. E o que compõe essa maioria é público mais velho, que mantém hábitos de ligar a TV na hora da “novelinha das seis” e enveredar noite adentro com a programação costurando na sua rotina. Novela é isso, um hábito que vira amor, que pode mudar o jeito que se conta e a emoção sempre como fio condutor. Já dizia Elis que “o novo sempre vem”.