Recém saído da equipe de Salve-se Quem Puder, produção da TV Globo que está totalmente gravada, Hugo de Sousa começou a parceria com o canal brasileiro há três anos com Orgulho e Paixão. Mas antes fez história em Portugal ao ganhar dois International Emmy Awards, o primeiro em 2010 por Meu Amor, e o segundo por Ouro Verde em 2018, ambas da TVI.
Com quatorze novelas no currículo, Hugo está de volta ao seu país para uma nova fase profissional. O destino é a Plural, produtora portuguesa onde trabalhou por mais de dez anos, e o cargo é de diretor artístico de conteúdo.
Há sempre possibilidades de inovar em qualquer coisa, mesmo nas novelas. Basta ver o que tem sido feito nos últimos cinco anos
afirma Hugo.
Em entrevista exclusiva, o diretor português fala sobre carreira e a nova fase em Portugal.
De ‘Amanhecer’ até ‘Ouro Verde’, novelas dirigidas por você, quais foram as principais mudanças no jeito de fazer novela em Portugal?
Foram várias as mudanças, mas talvez as principais sejam as tramas mais rápidas e com temáticas atuais.
As novelas portuguesas costumam passar dos 200 capítulos. ‘Morangos com açúcar’, por exemplo, ficou no ar durante nove anos. Na sua opinião, qual é a fórmula para manter uma trama durante tanto tempo no ar?
Não existe fórmula, Morangos foi uma série semelhante a Malhação, todos os anos se iniciava uma nova temporada com elenco novo. As outras novelas acabam com mais de 200 capítulos por necessidade orçamental (economia de escala).
Você me contou que era um sonho dirigir uma novela de época, e que não tinha tido essa oportunidade até ser chamado para integrar a equipe de ‘Orgulho e Paixão’. Como foi participar dessa superprodução?
Foi uma experiência incrível. É muito bom fazer um regresso ao passado, fazer pesquisa, dirigir num ambiente em que todos os personagens se comportam de forma bem diferente. A questão estética acaba por ter um peso no nosso dia-a-dia que me apaixonou.
Quais são as principais diferenças entre fazer novela no Brasil e em Portugal? Acha que ainda dá pra inovar com esse gênero?
A principal diferença é o orçamento. Devido ao seu tamanho, o Brasil consegue ter orçamentos muito superiores. Mas na sua base a forma de fazer é a mesma. Há sempre possibilidades de inovar em qualquer coisa, mesmo nas novelas. Basta ver o que tem sido feito nos últimos cinco anos.
Qual foi o seu projeto mais ousado para a TV?
Sem dúvida que Morangos com Açúcar foi o mais ousado, nos obrigou a inovar ano após ano.
Na TV brasileira o beijo entre duas pessoas do mesmo sexo ainda é considerado um tabu e gera polêmica. Como foi a repercussão do beijo entre dois homens na novela ‘O beijo do escorpião’?
Infelizmente a realidade do Brasil ainda está um pouco atrasada nesta temática, mas tudo vai com calma. Portugal embora tenha também os seus problemas sociais, a questão da homossexualidade nunca foi propriamente um tabu, ou algo de grande repulsa. E em Beijo do Escorpião embora tivéssemos todos os cuidados para não chocar, nem ofender ninguém, tiveram comentários menos positivos, mas nada que tivesse expressão, e que de alguma forma fossemos obrigados a retirar a trama. Felizmente o espectador português aceita bem a diferença.
‘Salve-se Quem Puder’, atual novela das sete da Globo, foi interrompida devido a pandemia do Covid19. Como foi retornar às gravações no meio dessa crise mundial?
Foi bastante difícil devido ao protocolo de segurança, exigia muito de todos e em particular aos diretores. Gravar cenas com distanciamento social ou efeitos visuais, de forma que o espectador não se lembre da pandemia, foi sem dúvida o que mais custou. Mas o ser humano tem uma enorme capacidade de adaptação.
As séries estão cada vez mais em alta através do streaming e da TV. Fazer seriado em Portugal é uma possibilidade? Tem algum projeto em mente?
Sim, é uma possibilidade, e sempre existiram séries. Só não existem na quantidade que todos gostaríamos. A questão financeira fala sempre mais alto. Não podemos esquecer que Portugal tem pouco mais de 10 milhões de habitantes, esse é o número que dita as regras para o mercado publicitário, que por sua vez é quem gera o capital para financiamento da televisão generalista.
Em março você foi anunciado como diretor artístico da Plural Entertainment. Quais são suas pretensões? O que pode dizer sobre essa nova fase de sua carreira?
Com muito orgulho voltei à empresa onde tinha trabalhado 18 anos, mas desta vez com uma responsabilidade diferente. Nesta nossa função vou tentar dar uma visão artística diferente a todos os produtos produzidos na Plural. Vai ser uma longa jornada onde irei aplicar muitos os novos conhecimentos que adquiri no Brasil.
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