O jornalista Hildázio Santana, ex-coordenador do núcleo de esportes da TV Bahia, afiliada da TV Globo em Salvador/BA, fez um forte relato após ser desligado da emissora, acusado de furtar uma cafeteira. Em um longo texto, o profissional conta em detalhes tudo o que aconteceu e acusa o diretor de jornalismo da emissora, Eurico Meira, de coagi-lo a confessar o suposto furto.
Hildázio começa o texto afirmando que completou 14 anos de formação em jornalismo e que viveu um ato “cruel”: “Ser jornalista, é tomar todos os cuidados ao noticiar essas informações com critério, isenção e respeito com familiares e vítimas. Mas, quando a vítima é você, o jornalista? E agora? O que fazer? Nunca pensei que em quase 20 anos na Tv Bahia, eu iria viver um ato tão cruel por uma pessoa que estava alí para me apoiar. Uma pessoa que deveria ser exemplo no orientar, falar e no cuidar. O racismo é silencioso e desumano”, disse.
Segundo o jornalista, no dia 20 de outubro, ele foi chamado para conversar com Eurico Meira e classificou o rumo dessa conversa como “uma dor que nunca vai se apagar”.
“O diretor Eurico Meira me colocou dentro de uma sala, tentou me desligar por justa causa, me coagiu, me julgou e no final me puniu com o desligamento da empresa. Me acusou da “SUBTRAÇÃO” de um equipamento de café”, afirmou.
O jornalista seguiu seu relato e explicou que tirou sim a cafeteira de uma sala e levou para outra, tudo isso dentro da empresa. Ele ainda contou que imagens de segurança do espaço comprovam a sua versão da história e que em nenhum momento tentou esconder a sua ação.
“Retirei uma cafeteira pequena de uma sala e coloquei em outra sala. A cafeteira não saiu da TV Bahia. Continua lá até hoje. No dia seguinte fui chamado pelo diretor de jornalismo porque as imagens mostravam eu saindo com o equipamento de uma sala para outra. Não coloquei dentro da sacola, nem de mochila, nem embaixo da camisa. Saí com ela nas mãos e por onde passei existiam câmeras mostrando tudo. Quase 10 câmeras mostrando tudo”, contou.
A explicação, no entanto, não teria convencido o diretor de jornalismo da afiliada, que fez outros questionamentos sobre a atitude do funcionário. Hildázio, então, tentou mais uma vez explicar que tirou a cafeteira de lugar para festejar em uma outra sala com os colegas do trabalho. Ele também reforçou que por questão de tempo não colocou a máquina no antigo lugar.
“Mesmo assim expliquei que levei a cafeteira apenas para fazer um café, me divertir com os colegas, que iria colocar no mesmo lugar, mas que por causa de muitas reuniões não deu tempo. Mesmo assim fui questionado porque havia entrado de maneira “furtiva” no local para pegar o equipamento. Em vários momentos fui perguntando sobre o tamanho da minha mochila e o que carregava nela. Atônito com a situação não percebi o que realmente ele queria dizer”, afirmou.
Hildázio também relembrou que tinha quase 20 anos de TV Bahia, exercendo um cargo de liderança e que havia obtido sete promoções dentro da empresa. O jornalista ainda afirmou seus princípios e valores, ensinados por sua mãe, que fez de tudo para que ele tivesse um bom estudo e que se tornasse um bom ser humano.
O jornalista encerrou seu desabafo questionando qual seria o comportamento do diretor se fosse uma pessoa branca no seu lugar. Ele ainda garantiu falar mais sobre casos de abuso sofrido dentro da emissora. “Não vou me calar. Essa é apenas uma primeira parte de tudo que ainda vou falar, desabafar, gritar”, terminou.
Questionado pelo portal UOL Esporte, Hildázio Santana afirmou que desde o início, a conversa foi em tom de ameaça e que ofereceram para ele a opção de demissão, para que a história do suporto furto não vazasse. Ele ainda contou, que a demissão por justa causa foi substituída por um desligamento mal explicado. O jornalista também afirmou que está em contato com seus advogados e que eles irão acompanhar o caso.
Em nota enviada ao portal UOL Esporte, a Rede Bahia, dona da TV Bahia, nega as acusações e afirmou que a demissão se deu por uma “decisão gerencial e natural do dia a dia de qualquer empresa privada”. Confira abaixo a íntegra da nota.
“Em virtude da circulação de notícias e comentários recentes, a respeito do desligamento de um dos nossos colaboradores e dos fatos que supostamente o motivaram, vimos a público esclarecer se tratar de uma decisão gerencial, natural no dia a dia de qualquer empresa privada, decisão essa embasada em questões profissionais, sem qualquer viés persecutório e/ou discriminatório. A Rede Bahia sempre trata seus colaboradores com respeito, igualdade e seriedade. Eventuais discussões e desdobramentos do assunto serão tratados com empenho, seriedade e clareza nas esferas e instâncias competentes”.
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