Silvio de Abreu acionou seu lado criativo ao ser escolhido para substituir o fenômeno de audiência “Ti Ti Ti”, de Cassiano Gabus Mendes. Em 10 de março de 1986, estreou Cambalacho, um sucesso de crítica e público naquele ano. Ele misturou humor com crítica, elementos sempre presentes em suas novelas. Não à toa, o título Cambalacho, uma alusão a condescendência do brasileiro em meio da censura imposta pela ditadura no Brasil que durou 21 anos no país. Era a primeira novela de Silvio de Abreu pós censura e ele usou e abusou do tom de crítica na novela. Deu mais que certo.
Os Anti-Heróis no centro da novela
Gegê e Naná são dois trambiqueiros que vivem de “cambalachos” para sobreviver e ajudar a pagar os estudos da filha na Suíça. Mas, apesar de todos os trambiques que fazem diariamente, Naná abriga crianças de rua e no fundo é uma boa pessoa. A dupla é inseparável e se ajuda mutuamente.
Ainda no núcleo de Gegê, Ana Machadão, filha do trambiqueiro que ganha a vida atuando como mecânica de automóveis e se apaixona pelo sensível Thiago, um cara rico que acaba sendo deserdado pelo pai por se apaixonar por Ana. Mas, a sacada era inverter as profissões tidas como socialmente masculinas e femininas. Enquanto Tiago era bailarino; Ana, uma mecânica. Com esse cerne do casal jovem da trama, o autor fez questão de levantar questões e pautas sobre o homossexualismo.
Houve destaques em outros núcleos da trama. A vilã Andreia, ambiciosa e perigosa, ganhou rapidamente os holofotes. A academia Phsysical , de Amanda, era sensação daquele ano, e seu caso de amor com Rogério movimentou “Cambalacho”.
Tina Pepper
A novela por si já era sucesso, mas houve o destaque entre os destaques. Tina Pepper era a comédia mais rasgada daquele Cambalacho. Fã incondicional de Tina Turner, a sensação da década. E assim como Naná e Gegê, Tina era uma trambiqueira de marca maior e queria se dar bem a qualquer custo. Em uma recente entrevista ao jornal Extra, após a morte de Tina Turner, neste ano, a intérprete, Regina Casé relembrou a personagem: “A Tina falava que odiava pobre, dava bolsada nas pessoas. Hoje em dia ela nem poderia existir [risos]. Apesar de ser muito braba e mal-humorada, as pessoas adoravam. É um personagem que ficou no meu coração e no coração do público, mesmo tento passado tantos anos”.
Elementos de uma boa trama, aliados a comédia e drama fazem de Cambalacho uma pedida indispensável a quem quer ver, sentir e rir de um passado que sempre volta. Ainda bem.