A Record TV definiu as substitutas da novela Topíssima, exibida na faixa das 22h. Ao invés de optarem por outra reprise, a emissora escolheu preencher o horário com o seriado Quando Chama o Coração (When Calls The Heart) e anunciou a produção de uma série substituta chamada Todas As Garotas Em Mim. Para o lugar de Gênesis, às 21h, foi definido que será Reis, com autoria designada para a novata Raphaela Castro.
Nos dois horários, pode-se perceber uma forte influência das histórias bíblicas, que tem claramente o intuito de evangelizar. A partir de agora, as obras contemporâneas da emissora não são histórias originais, já que serão mescladas com tramas do livro sagrado. Seria uma nova imposição da Record TV não produzir mais folhetins sem o cunho evangélico?
Realitys podem tudo
Se por um lado a emissora molda a dramaturgia de acordo com preceitos religiosos, no campo dos reality shows essas normas nem chegam perto. Parecem dois canais distintos. Power Couple Brasil, Ilha Record e A Fazenda são três programas de confinamento que a emissora produz e exibe. E nessas atrações quanto mais tretas tiverem, maior o engajamento e audiência.
Enlatado às 22h
Com um catálogo repleto de atrações para essa faixa como Vidas Em Jogo, Chamas da Vida, Poder Paralelo e Pecado Mortal, reprisar algum dos folhetins da casa parecia ser uma decisão lógica. Mas um seriado canadense foi preferido por se tratar de um produto inédito. Atitude que demonstra falta de sensibilidade com o público noveleiro, que pode rejeitar o “enlatado” por falta de identificação. Afinal, as novelas se consolidaram nessa faixa há alguns anos.
Mais uma
Ao começar pelo nome, Todas As Garotas Em Mim parece uma trama voltada para o público infanto-juvenil. E a premissa de uma influenciadora digital, que vive dilemas parecidos com as garotas da Bíblia, reforça essa ideia. Se é o nicho de jovens evangélicos que o canal de Edir Macedo quer alcançar, acertou em cheio. Mas houve algum estudo para verificar se é esse tipo de conteúdo que o espectador desse horário quer assistir?
Com essa nova programação, as chances de as bíblicas perderem fôlego são grandes, mas quem está no comando não parece se preocupar com essa possibilidade.
Topíssima 2
Prometida desde o final de 2019, a continuação de Topíssima pode não sair do papel. A novela de Cristianne Fridman era um respiro das tramas épicas, assim como foi com Amor Sem Igual, não só para o público, mas para autores e atores da casa.
A boa audiência da novela protagonizada por Camila Rodrigues parecia um aceno positivo para a volta das novelas das dez, que era uma marca registrada da emissora nos anos 2010: novelas contemporâneas cheias de ação.
Autores podados
Sem tramas originais, os autores perdem força e a oportunidade de produzir um “hit dramatúrgico” fora do campo religioso.
A Record TV tem toda uma história com produções que marcaram a teledramaturgia nacional, em uma época onde os serviços de streaming nem sonhavam em fazer barulho, muito menos em investir em novelas como agora. Autores consagrados como Marcílio Moraes, Lauro César Muniz e Carlos Lombardi já passaram por ali e fizeram obras memoráveis. Vivian de Oliveira, Gustavo Reiz e Paula Richard são nomes que brilharam na casa. A última, inclusive, segue na geladeira desde 2018.
Mas ao apostar em nomes desconhecidos como Raphaela Castro e Stephanie Ribeiro, que nem foram colaboradoras da própria emissora, fica uma sensação de amadorismo e desvalorização de seus profissionais. Será que foram escolhidas para serem os olhos da Universal?
A gana de produzir “novelões” dos anos 2000 e 2010 parece ter se dissipado e ficou no passado de uma empresa, que tem infraestrutura para produzir conteúdo de qualidade e a única da TV aberta com “artilharia” para ser um contraponto à TV Globo.
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